Kissinger na relação bilateral EUA-China
Artigo escrito por Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro
Além de todos os efeitos da crise provocada pela pandemia da Covid-19, a sociedade internacional também deve estar atenta para um cenário em que novamente há o predomínio de duas potências. No entanto, no contexto hodierno a predominância da China e dos Estados Unidos da América (EUA) invoca características muito específicas, simultaneamente há uma ausência de estratégia que chama a atenção especialmente por parte da América do Sul. A China ainda é estudada de forma totalmente escassa e precária nas escolas e na vida acadêmica no Brasil. Enquanto outras regiões do mundo estudam a China há décadas, o país é pensado de forma tímida e com vários equívocos em âmbito nacional.
A começar pelo significado das cinco estrelas na bandeira da República Popular da China de 1949 pouco mencionado, corrobora para demonstrar o ínfimo conhecimento que se tem acerca desse Estado. A estrela maior significa o Partido Comunista Chinês, e as outras quatro estrelas significam as classes sociais, os trabalhadores em geral, o agricultor, a pequena burguesia, e a chamada burguesia nacional, sendo esta última considerada aquela que contribui para o desenvolvimento do país. A China e os EUA são alguns dos poucos Estados que constituem o seleto grupo dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU).
Após a Segunda Guerra Mundial, durante a formação do CSNU por seus membros permanentes, a República Popular da China já era considerada um ator de extrema relevância. A França, destruída no contexto do pós-guerra, conseguiu ser um membro permanente por uma projeção futura, em uma expectativa de que se recuperaria, pois não era vista como uma potência em potencial. O Reino Unido se tornou membro pela sua importância geopolítica, e a Rússia -- na época antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) --, em uma perspectiva história de início de Guerra Fria e como um dos países orquestradores da Organização das Nações Unidas (ONU), teve o seu lugar garantido.
O ex-secretário de Estado estadunidense, Henry Kissinger, atualmente com 97 anos, alertou para a relação bilateral EUA-China como o grande problema da atualidade, sendo enfático ao mencionar sua preocupação com essas más relações. Kissinger, além de ser um renomado professor de Relações Internacionais, foi secretário de Estado na década de 1970 do presidente do partido republicano, Richard Nixon. A dimensão de sua relevância se dá pelo fato de Kissinger haver sido o mentor da reaproximação entre os EUA e a China de Mao Zedong (em chinês).
A famosa frase proferida em 1972, “Nixon goes to China”, ou seja, Nixon vai para a China, tornou-se representativa do emblemático momento. A visão de Kissinger é de grande valia, tendo em vista o seu alerta sobre temas como armas nucleares e inteligência artificial em uma agenda com maiores possibilidades de um conflito devastador maior do que na época da Guerra Fria. As armas nucleares e a inteligência artificial devem ser priorizadas como alerta, pois a tecnologia permitiu o desenvolvimento de uma parceria entre o ser humano e uma máquina, sendo que esta última também pode fazer um juízo de valor. É pertinente verificar os aspectos demonstrados pelo grande professor de Relações Internacionais, porque, como recorda, a antiga URSS não possuía espaço como potência econômica e a sua tecnológica atendia a uma demanda militar. O contexto soviético era completamente diferente da dimensão da China.
O dia 20 de abril é o dia do idioma chinês na ONU, sendo uma das línguas oficiais da organização. É o idioma mais falado no mundo, sendo formado por 10 línguas que compõem o seu grupo linguístico, Wu, Gan, Xiang, Min, Hakka, Yue, Jin, Huizhou, Pingua e Mandarim. Juntamente com o Brasil, a China também é um dos BRICs, no entanto a diferença no desenvolvimento em todos os aspectos é notória, pois a China segue decolando.
Dra. Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro é professora na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), câmpus Santana do Livramento (RS), área de Direito Internacional é doutora pela Universidade de Leiden/Países Baixos.