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Filmes da Netflix: "O mediador" (parte 2 de 3)

Artigo escrito por Nildo Benedetti

30 de Abril de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Gana foi o país africano em que a maior parte de
Gana foi o país africano em que a maior parte de "O mediador" foi rodado. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Na semana passada escrevi que os conhecimentos e habilidades de Carlos foram astutamente utilizados para dificultar o avanço da China na África, sem que ele suspeitasse da manobra. O objetivo era endossado pela própria ONU, representada por sua mãe no filme.

A China ocupou o lugar dos Estados Unidos como maior parceiro comercial da África. As relações das duas potências com o continente têm orientações diferentes. Como escrevi na semana passada, a China não impõe condições políticas aos países com quem negocia, comportando-se com o pragmatismo de um país capitalista. Por outro lado, a retórica norte-americana na África tem mais a ver com combater a influência da China do que com uma estratégia de desenvolvimento regional -- como apontado pelo o Conselho de Relações Exteriores de Nova York. O líder chinês Xi Jinping já esteve na África quatro vezes e Trump nunca visitou o continente.

A economia chinesa, baseada na exportação de produtos industriais, está sendo remanejada para uma economia baseada no consumo doméstico. Além disso, busca diminuir a dependência internacional em setores-chave como o energético e o tecnológico. Isso explica sua aproximação com países como Rússia, Irã e outros, “ajudada” pelo comportamento errático de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. Durante sua gestão, discursos ideológicos de ódio se acentuaram, a confiança entre países foi corroída e ocasionou a busca, por alguns países periféricos da economia mundial, por parceiros menos imprevisíveis.

Desde 2014, ano da anexação da Crimeia pelos russos, os Estados Unidos mantém a Rússia isolada do Ocidente. As sanções cresceram após a interferência dos russos nas eleições americanas de 2016 que elegeram Trump. A nova aproximação entre Moscou e Pequim é a resposta a um inimigo comum, os Estados Unidos. Nos últimos anos, a China se tornou a principal parceira comercial da Rússia e este é o país que mais vezes foi visitado pelo líder chinês Xi Jinping. Cerca de 30 acordos celebrados em 2019 reforçam a cooperação entre as duas nações, que concordam sobre tópicos polêmicos como a atuação na crise na Venezuela e no conflito da Síria.

Caso similar ocorreu com o Irã. Trump rompeu o acordo nuclear que Obama havia forjado com o país, passou a aplicar-lhe severas sanções econômicas e quis obrigá-lo a assinar novo acordo, mais favorável a Israel; completou a obra desastrada ordenando o assassinato de um importante e prestigiado general iraniano, fato que ocasionou grande revolta na população local. O resultado foi que o país realizou com a China uma associação estratégica por 25 anos, cujos detalhes ainda são desconhecidos na sua totalidade, mas que envolve enormes cifras em acordos comerciais que prometem grandes benefícios às duas nações.

A política exterior de Trump foi resultado do jogo de forças econômicas e políticas no interior dos Estados Unidos. Foi belicosa e, pelo que parece, menos frutífera do que a chinesa. De momento, não há como prever a orientação que Joe Biden, novo presidente do país, dará às relações com a China e Rússia, porque não sabemos o quanto daquelas forças que determinaram a política de Trump persistem no novo governo.

Conclui na próxima semana.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.

Nildo Benedetti - [email protected]