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90 minutos com dom Julio

Artigo escrito por Vanderlei Testa

27 de Abril de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Arte
Arte (Crédito: Vanderlei Testa)

Participei de reunião virtual com os membros do Conselho de Leigos da Arquidiocese de Sorocaba. Aconteceu no dia 17 de abril de 2021. Como convidado, dom Julio Endi Akamine. O evento, 123º reunião da entidade, foi iniciada com celebração de missa presidida pelo arcebispo na Capela N. S. da Ponte, da Casa Episcopal.

Começaram aí os 90 minutos das reflexões de dom Julio. Focarei inicialmente suas palavras na homilia porque servirá para todos os que buscam entender as passagens bíblicas com docilidade. Neste tempo de Covid-19, quando há no mundo três milhões de pessoas já mortas por essa pandemia, sentimos uma busca da espiritualidade e entendimento do medo humano perante essa enfermidade.

Dom Julio refletiu o evangelho de João 6,17-21. Ele disse: “Os discípulos entraram na barca e foram em direção a Cafarnaum, do outro lado do mar. Jesus foi ao encontro deles caminhando sobre as águas. Um episódio surpreendente. Jesus que caminha sobre as águas do mar. Mais do que um milagre é a força simbólica desse gesto. As águas do mar sempre representaram, desde o Antigo Testamento no imaginário das pessoas, a morte. O caminhar de Jesus sobre as águas é uma prefiguração do mistério da ressurreição, de Jesus que atravessa vitoriosamente a morte. Na Bíblia muitas vezes a morte é comparada ao mar. No Salmo ouvimos, ‘envolvem-me as ondas da morte’. Para falar da morte a Bíblia privilegia essa imagem das ondas. Porque a Bíblia escolhe essa imagem das ondas como símbolo da morte? É porque, de fato, faz parte da experiência humana a morte que recai sobre a gente. É algo inevitável que não conseguimos fugir dela. Por isso, quando o evangelista João relata Jesus caminhando sobre as águas, esse prodígio, esse milagre não é só algo surpreendente que supera a mente humana, porque ninguém caminha sobre as águas. É uma prefiguração do que Jesus vai realizar com a sua morte e ressurreição. No mar em tempestade a morte por afogamento de uma pessoa é quase certa, por isso quem caminha sobre as águas se revela como vencedor da morte. A imagem da tempestade, do mar agitado, é a da paixão de Jesus. É a imagem da terrível tribulação que dispersou os discípulos. E Jesus caminha sobre as águas em meio às tempestades e se aproxima do barco. Os discípulos tiveram medo do mesmo modo como tiveram medo da paixão de Jesus. Mas Jesus lhes assegura: ‘Sou eu, não tenhais medo’.”

“As mesmas palavras que Jesus utiliza quando aparece ressuscitado aos discípulos ‘sou eu, não tenhais medo’. O evangelho se conclui de modo muito significativo. Quando os discípulos reconheceram que era Jesus quem caminhava sobre as águas quiseram recolhê-Lo na barca, mas a barca chegou imediatamente na margem para onde eles estavam indo. O que significa para nós? Quando aceitamos Jesus no mistério da sua paixão e ressurreição nós chegamos à margem da nossa viagem imediatamente. Quando aceitamos Jesus morto e ressuscitado, no barco da nossa existência, nós atravessamos as tempestades da vida com mais rapidez. Chegamos ao destino da nossa viagem com mais rapidez. Vamos pedir ao Senhor a graça de reconhecê-Lo presente, reconhecê-Lo ativo na nossa vida, para que com ele passamos atravessar as dificuldades da vida. Mais do que nunca temos a necessidade de Jesus na nossa fragilidade. Estamos em meio às ondas revoltas de uma pandemia, mar e tempestades, temos que atravessar. Vamos fazê-lo sozinhos ou com Jesus? Quando aceitamos Jesus na nossa frágil barca da vida a nossa viagem chega ao seu destino.”

Na segunda parte da reunião do Conselho de Leigos, dom Julio relatou alguns assuntos da 58º Assembleia Geral da Conferência dos Bispos do Brasil, realizada de forma virtual de 12 a 16 de abril de 2021. Mais de 300 bispos e convidados da CNBB unidos na mesma missão de debater o tema “Casa da Palavra e Animação bíblica da vida e da pastoral nas comunidades eclesiais e missionárias”. Este encontro é sinal e instrumento de colegialidade, do afeto episcopal e da busca da comunhão entre as igrejas particulares do País, especialmente no âmbito da ação evangelizadora. No site da CNBB há uma cobertura completa da assembleia. Dom Julio foi o coordenador da equipe responsável pelas Atas da 58ª. Assembleia. Três santos passam a fazer parte do calendário litúrgico no Brasil. Santa Dulce dos Pobres, santo Romero e São José de Anchieta. Dom Julio destacou uma mensagem do Papa Francisco, especial aos participantes da Assembleia Geral. O vídeo está disponível na internet.

Neste tempo de pandemia há paralisações nas celebrações; a única atividade que não parou foi a de caridade cristã e da solidariedade. Pelo contrário, disse dom Julio, foram essas atividades que se intensificaram neste tempo da pandemia. Não é uma campanha, mas ações que vão continuar hoje e no futuro. Isso foi testemunhado por todos os bispos. Sobre a Covid 19, a notícia de cerca de 70 padres falecidos no Brasil pela pandemia. Outro assunto destacado na assembleia: “A Lei Geral de Proteção de Dados -- LGPD”, em fase regulatória no País. Esse tema justifica-se porque a Igreja Católica têm um dos maiores acervos de dados do País. Nesse item dom Julio incluiu um pedido à Associação dos Juristas Católicos de Sorocaba: elaborar pesquisas dessa nova lei de controle dos dados. O objetivo é subsidiar a arquidiocese de Sorocaba.

Durante a assembleia houve um retiro com a participação do cardeal O’Malley, dos Estados Unidos. A assembleia é uma expressão muito forte de comunhão eclesial enfatizou dom Julio. Houve duas análises de conjuntura na assembleia. Análise da conjuntura Sócio-Econômico-Política e a Análise Eclesial.

Finalizando o diálogo com os membros do Conselho de Leigos, deixou uma citação do papa Bento 16 do “Continente Digital”. Comparou com a descoberta do continente por Cristóvão Colombo. Não sabemos ainda muito bem como nos mover e evangelizar nesse novo continente digital. Será necessário caminharmos juntos, leigos e clero no entendimento desse novo mundo digital, disse dom Julio. Encerrava os 90 minutos da sua participação.

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário, escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. E-mail: [email protected]