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Filmes da Netflix: "O mediador" (parte 1 de 3)

Artigo escrito por Nildo Benedetti

23 de Abril de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Carlos (Raúl Arévalo) é envolvido involuntariamente no embate na África entre China e Estados Unido.
Carlos (Raúl Arévalo) é envolvido involuntariamente no embate na África entre China e Estados Unido. (Crédito: Divulgação)

Nildo Benedetti - [email protected]

Este filme de 2020, do diretor espanhol Esteban Crespo, possibilita duas linhas de interpretação intimamente relacionadas na trama e no sentido. A primeira refere-se à vida pessoal do protagonista Carlos, seus amores e suas relações familiares. De fato, o filme começa e termina com cenas de sua vida íntima em família. A segunda diz respeito aos aspectos sociais e políticos que o filme suscita. É deste que escreveremos a seguir, fazendo um resumo de fontes confiáveis como teses, artigos de revistas e jornais disponíveis na Internet.

Carlos trabalha como executivo de uma empresa em Bruxelas e está em vias de ser promovido para Nova York com a esposa grávida de oito meses. Sua promoção, no entanto, está condicionada à execução de uma missão em um país não nomeado da África: negociar com os sequestradores do engenheiro de uma empresa petrolífera americana. O engenheiro sequestrado possuía documentos secretos que mostravam a íntima relação da empresa petrolífera com o governo do país, cujo presidente havia perpetrado um genocídio. O governante queria passar por democrata para viabilizar os investimentos da empresa americana no país.

Carlos era bem visto pelos africanos porque havia morado e conhecia as pessoas do local, incluindo o suposto sequestrador, um velho amigo. O filme evidencia como a competência de um indivíduo, sem que ele saiba, é ardilosamente manipulada, incluindo com a adesão da ONU, para atender ao objetivo de impedir o avanço da China na África.

Por traz da tentativa da ONU de reter a influência chinesa na África está a luta entre China e Estados Unidos pela hegemonia mundial em diferentes dimensões: comercial, financeira, militar, tecnológica etc. Essa luta envolve espionagem, propaganda, força militar. Ameaças e sanções, fechamento de consulados, acusações de espionagem e vetos de viagens de um lado são respondidos simetricamente por outro. A primeira Guerra Fria entre a União Soviética e os Estados Unidos difere da atual entre China e Estados Unidos porque estes agora estão muito mais interconectados financeiramente.

Esse embate ameaça levar o restante dos países a um ou ao outro lado na hora de escolher a tecnologia 5G, sistemas de defesa ou votar resoluções internacionais. Essa competição entre as duas potências deveria ser aproveitada pelos demais países para atender a seus próprios interesses, deixando de lado o alinhamento automático ou ideológico a uma das partes.

A África concentra alguns dos países de maior ritmo de urbanização e crescimento do mundo. A classe média e a democracia vêm se consolidando e a necessidade de infraestrutura de transporte e de comunicação é enorme. A China não impõe condições políticas aos países com quem negocia e, por isso, pode se relacionar economicamente com qualquer país, seja uma democracia, uma teocracia, uma ditadura, desde que abra mercados para suas exportações e investimentos e assegurem fontes de matérias primas para a sua economia. Ou seja, embora seja um país de governo autoritário, de um “socialismo de mercado” com decisiva presença estatal na economia, a China age, na defesa de seus interesses, com a praticidade e objetividade de um país capitalista.

Continua na próxima semana.

Está série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.