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Fé profanada

Artigo escrito por João Alvarenga

23 de Abril de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Fé profanada
Fé profanada (Crédito: Ilustração: Luitz Terra)

João Alvarenga

Atacar um templo no que há de mais sagrado para quem preserva a fé, o Sacrário, e deixar, naquele silencioso espaço de preces, pedidos e reflexões, a marca de uma estúpida ousadia. Lamentavelmente, foi o que aconteceu, em Sorocaba, em pleno século 21. A Igreja de São Lucas, pertencente à Comunidade de São José do Lajeado, teve sua capela vandalizada. Um detalhe agravante: o fato se deu exatamente no dia em que cristãos do mundo todo celebram a morte de Cristo na cruz, ou seja, a Sexta-feira Santa. E, pior ainda, num momento, em que a humanidade está fragilizada por causa de uma pandemia que, não só isolou as pessoas, mas fechou as portas das igrejas, exatamente, quando as pessoas mais precisam de Deus.

Embora seja caso de Polícia, até o momento, a autoria é desconhecida e, talvez, fique impune, até porque o perdão já foi dado pelo arcebispo Julio Akamine. No domingo de Páscoa, pediu que os católicos orassem, para que os invasores se arrependam. Talvez, se tal ação se desse num Estado teocrático, o destino dos profanadores fosse outro. Por aqui, como dizem, dá-se um jeito e a vida segue.

Mas, esse não é um caso isolado, há muita intolerância religiosa, tanto que a Campanha de Fraternidade deste ano prega o diálogo inter-religioso. Mesmo assim, esse assunto é pouco discutido, tanto pela mídia quanto pelas autoridades. Ainda que a Constituição de 1988 garanta a liberdade religiosa, igrejas são pichadas, incendiadas e imagens de santos são quebradas. Nessa insana perseguição à crença, até túmulos são profanados. Os fiéis do Candomblé e da Umbanda são os mais visados, vítimas de um discurso que distorce suas crenças. Espíritas e Testemunhas de Jeová também se tornam objetos de piadinhas desagradáveis.

Tudo isso para quê? Com que propósito ou, suposto direito, alguém profana a fé alheia? Para zombar? Impor uma nova ordem? Fazer crer que as imagens não dignas de crença? E esse ataque à capela? Foi puro vandalismo ou fanatismo bizarro? Nunca saberemos! Pois, pior do que o ato é a covardia de não assumi-lo.

(*) João Alvarenga professor de redação e cronista.