Editorial
Onipresença digital
O excesso do uso de telas está em nível preocupante, não só por crianças e adolescentes, mas também entre adultos
O uso de redes sociais e aplicativos ocupa o tempo de jovens e adultos e vem-se tornando um problema sério, que exige atenção de educadores e psicólogos.
Ficar agarrado ao celular prejudica estudos, o trabalho, o descanso e o lazer.
Especialistas alertam que a presença dos aplicativos em nossas vidas altera a maneira como nos relacionamos com o tempo.
Antes, as pessoas valiam-se de informações que estavam ao seu alcance físico, exclusivamente livros e outras publicações impressas, e agora podem obtê-las digitando algo rapidamente no aparelho móvel, embora muitas vezes não sejam confiáveis, dependendo da fonte consultada.
A conexão é instantânea e tudo se tornou mais fácil. A internet móvel pode ser útil para pesquisas, conhecimento e boas relações sociais e entretenimento. Com a web também se perdem horas e horas...
Do Facebook ao Instagram, do X (antigo Twitter) ao TikTok, do WhatsApp ao YouTube, a presença dos aplicativos tomou enorme espaço no nosso dia a dia, tornando quase impossível fugir deles.
O mundo digital acaba abocanhando tudo ao redor, como um buraco negro que se expande.
É preciso cuidado porque, senão, não se pode mais sair dele.
O psicoterapeuta e escritor Leo Fraiman alerta que o excesso do uso de telas está em nível preocupante, não só por crianças e adolescentes, mas também entre adultos.
Ele cita até o termo “demência digital” para a utilização descontrolada dessas tecnologias, com prejuízos ao aprendizado em geral e nos relacionamentos pessoais.
Caso exista uso abusivo de telas, sejam elas videogames, smartphones, tablets, existem perigos em várias áreas do desenvolvimento da criança e do adolescente, observa Fraiman.
Ele explica que é preciso proteger os jovens e lembra da pandemia de Covid, que, com o isolamento, trouxe a necessidade de aulas on-line.
Quanto à “demência digital”, o psicoterapeuta diz que ela pode ser entendida como um conjunto de sintomas que mostram dificuldades na maneira de pensar, raciocinar, memorizar e concentrar-se.
Como uma das medidas para evitar o abuso do consumo digital pelos jovens, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) vai bloquear o acesso a diversos aplicativos e plataformas de streaming nas escolas da rede estadual de ensino em ambientes administrativos e pedagógicos das unidades.
De acordo com a pasta, o objetivo “é otimizar o uso de infraestrutura tecnológica para o desenvolvimento pedagógico dos estudantes”.
Na prática, os estudantes serão impedidos de gastar o tempo em que estão na escola nos aplicativos TikTok, Kwai, Facebook, Instagram, GloboPlay, Roblox, Netflix, Amazon Prime Vídeo, X (antigo Twitter), Twitch, HBO Max, Disney+ e Steam.
A Seduc-SP menciona estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que indicou que nas escolas onde há restrições ao uso de smartphones os alunos são menos propensos a relatar distração por causa desses dispositivos durante as aulas de matemática.
A pesquisa detectou que 30% dos estudantes em escolas onde o celular é proibido relataram utilizar o aparelho várias vezes ao dia.
Por outro lado, o estudo mostrou que os alunos que fazem uso moderado, seja para estudo ou lazer, apresentam notas maiores.
Recentemente, a Prefeitura do Rio de Janeiro proibiu uso de celulares pelos estudantes nas escolas municipais, incluindo o intervalo das aulas.
Conforme a decisão, os aparelhos devem ser guardados na mochila ou na bolsa do próprio aluno, desligado ou em modo silencioso.
As restrições aos celulares nas escolas, em menor ou maior grau, podem ser discutíveis, mas atentam para um problema sério que merece a devida atenção dos pais e educadores.