Levantamento
Mortes por acidente de trabalho aumentam 52% na região de Sorocaba
Desrespeito às normas e negligência das Cipas causaram grande parte dos 61 óbitos registrados pela DRT em 2023
A região de Sorocaba registrou aumento de 52,50% no número de mortes por acidentes de trabalho no ano passado. O levantamento é da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) da cidade. Conforme os dados do órgão ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram pelo menos 40 óbitos em 2022 ante 61 em 2023. A DRT de Sorocaba aponta ainda que os números de acidentes e mortes no ambiente de trabalho são os maiores dos últimos 10 anos.
Na região de atuação da DRT, que compreende 81 municípios -- de Araçariguama até a divisa com o Paraná --, foram registrados 20.823 acidentes de trabalho no ano passado, sendo 1.909 somente em Sorocaba.
Para o chefe da Regional da Fiscalização do Trabalho, Ubiratan Vieira, o grande número de acidentes graves de trabalho e as mortes são um sinal de alerta e uma situação preocupante. Ele cita o caso registrado em setembro do ano passado, em Cabreúva, quando seis pessoas morreram e pelo menos outras 30 ficaram feridas na explosão de uma metalúrgica. “Os números de óbitos e mutilações de trabalhadores na região de Sorocaba estão próximos de uma catástrofe”, alerta.
Vieira conta ainda que, na ocasião, ao ver o cenário da catástrofe, considerou a explosão na empresa um cenário de guerra. “Aquela explosão é a mistura de produtos químicos em proporções acima do permitido, o que pode ter gerado algo próximo a uma explosão de bomba de hidrogênio. Existiam todos os componentes e uma pessoa despreparada para fazer a mistura de limpeza de fornos a 12 mil graus Celsius. Essa pessoa faleceu 20 dias depois, com 90% do corpo queimado e partes dilaceradas. Todos os trabalhadores dos fornos foram a óbito, dois deles no próprio dia da explosão”, lembra.
Ainda conforme a Regional da Fiscalização do Trabalho, as ocorrências chegam mediante denúncias ou oficialmente, por informações de hospitais e parentes dos acidentados. “Temos muitos problemas em obter informações a respeito com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), por exemplo”, aponta Vieira.
O aumento de acidentes de trabalho e mortes na região de Sorocaba fez com que, pela primeira vez, o MTE, o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), o Seconci, o INSS, a Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador (Cist) e a Vigilância Sanitária se reunissem para traçar um plano de trabalho e de orientação para empresas e trabalhadores, com o objetivo de reduzir as ocorrências.
Sorocaba
No caso de Sorocaba, Vieira cita acidentes de trabalho graves. “Os 1.909 (citados anteriormente) são aqueles mais graves, em que o trabalhador permaneceu no mínimo 15 dias afastado do trabalho. São casos de fraturas, amputações, ferimentos por quedas, inclusive na construção civil. Temos um plano de trabalho que vamos desenvolver com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) em razão do excessivo número de mortes na construção civil na cidade e na região”, ressalta.
Vieira cita a morte de um engenheiro, de 28 anos, que ocorreu em uma construção, no bairro Campolim, em Sorocaba, em julho do ano passado, após o trabalhador ser atingido por uma estrutura de ferro de um prédio em construção. De acordo com apuração do MTE, uma estrutura caiu sobre o funcionário, que não resistiu aos ferimentos e faleceu no local.
“Em acidentes fatais, como o caso do engenheiro, que foi atingido no solo por uma tela que caiu do 21º andar, a empresa é severamente autuada e a obra interditada por quatro meses. “Toda equipe de Segurança e Medicina do Trabalho foi demitida. Dias antes, o engenheiro falecido havia pedido providências ao mestre de obras. Caso elas tivessem sido tomadas, poderiam ter evitado a morte e ferimentos em outros 15 traballhadores”, aponta Vieira. “A tela de 30 quilos chegou ao solo pesando 720 quilos, ou seja, morte instantânea do funcionário”, lamenta.
Casos em 2024
O mês de janeiro ainda não acabou e novos casos de acidentes de trabalho e mortes já foram registradas na região de Sorocaba. De acordo com a Delegacia Regional do Trabalho, no dia 11, um trabalhador de 69 anos morreu esmagado por um torno mecânico em um conjunto empresarial de Itu. “Já temos quatro casos nos primeiros 15 dias de janeiro”, informa Vieira.
O chefe da Regional da Fiscalização do Trabalho de Sorocaba disse ainda que os problemas que os auditores mais encontram ao investigar os acidentes de trabalho e mortes dizem respeito ao descumprimento da Norma Regulamentadora (NR 1), pela falta, por exemplo, do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). “Boa parte das empresas fiscalizadas não cumpriram e foram autuadas. Também temos visto um trabalho bastante abaixo da média nas Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipas). Algumas empresas contratam terceirizadas não respeitáveis de Serviços Especializados em Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmets). Há casos absurdos de obras e construções onde o responsável técnico é o engenheiro civil, mas ele nem passou perto da obra. Em outras situações, a empresa não possui engenheiro mesmo, isto é, não há preocupação com a vida e a segurança dos trabalhadores”, lamenta Vieira. (Ana Claudia Martins)
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