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Editorial

Moleque travesso

A primeira chuva significativa de 2024 não trouxe sustos, mas serviu para lembrar que, de uma hora para outra, o tempo pode mudar e um temporal se formar

09 de Janeiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
A chegada, mais uma vez, do fenômeno El Niño mexeu ainda mais com os índices de temperatura
A chegada, mais uma vez, do fenômeno El Niño mexeu ainda mais com os índices de temperatura (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO / ARQUIVO JCS (14/9/2023))

Sorocaba enfrentou, nesta segunda-feira, 8, a primeira chuva forte do ano. Não foi nada comparado ao temporal vivido em novembro de 2023, que provocou transtornos em toda a cidade.

Naquele dia 3 de novembro, muita gente foi pega de surpresa com a força da água e a velocidade dos ventos. Árvores foram arrancadas pela raiz e muitas estruturas urbanas não resistiram. A rede elétrica foi a mais afetada. Diversos bairros ficaram sem energia por vários dias.

O problema não atingiu só a região de Sorocaba, mas boa parte do Estado de São Paulo, incluindo a capital. O alerta foi dado e muitas previsões indicam que fenômenos idênticos podem se repetir durante os meses de verão.

A primeira chuva significativa de 2024 não trouxe sustos, mas serviu para lembrar que, de uma hora para outra, o tempo pode mudar e um temporal se formar.

Essa instabilidade atinge todo o planeta e está muito ligada às mudanças climáticas que vêm sendo anunciadas há anos. O aquecimento da atmosfera está aí para quem quiser ver.

O que muitos especialistas previram agora é realidade: o ano 2023 foi o mais quente da história, com uma alta da temperatura média de 1,48º C, praticamente o limite imposto pela comunidade internacional em Paris em 2015.

A temperatura média no mundo, no ano passado, foi de 14,98° C, ou seja 1,48° C a mais que o registrado na era pré-industrial (1850-1900). O anúncio foi feito, nesta terça-feira, 9, pelo observatório europeu do clima Copernicus.

O novo recorde de temperatura ultrapassa em +0,17° C o anterior, registrado no ano de 2016. Nem todos os cientistas concordam ou tratam com relevância esses dados. Acham que medir a temperatura média da Terra é de uma enorme inutilidade.

Apontam ainda erros na comparação. Dificilmente as medições ocorridas no século 19 teriam a precisão necessária para esse fim. O número de regiões estudadas seria também muito diferente. Mesmo diante de tanta controvérsia, alguma coisa precisa ser feita para assegurar o futuro do planeta.

O Acordo de Paris assinado por quase 200 países com o objetivo de combater a mudança climática tinha como objetivo central tentar impedir que a temperatura média aumentasse mais que 2º C nas próximas décadas. Apesar das boas intenções, pouca coisa foi feita na prática e a meta está muito próxima de ser batida.

A chegada, mais uma vez, do fenômeno El Niño mexeu ainda mais com os índices de temperatura. Sua influência alterou o clima em todos os cantos do planeta. Foram registrados grandes incêndios no Canadá, secas extremas na África e no Oriente Médio e altas temperaturas em pleno inverno na Austrália e no Cone Sul. Todas essas catástrofes foram parar na conta do menino travesso que deve manter sua influência até meados de abril.

Os cientistas apostam que neste mês ou, no máximo, no mês que vem, a temperatura média da Terra atinja o limite de 1,5º proposto como ideal pelo Acordo de Paris. E pouca coisa pode ser feita, nesse momento, pelos homens. Nem mesmo a queda brusca de temperatura no Hemisfério Norte, com alguns países registrando mínimas de até -40º C, deve evitar que isso ocorra.

A Organização das Nações Unidas tem pedido que os líderes mundiais levem a sério esses dados e lute para reduzir as emissões de gases que ajudam a elevar a temperatura. Só que as boas intenções param no momento que se discute quem vai pagar essa conta.

Enquanto as medidas que podem salvar o planeta não são tomadas, resta-nos ficar de olho no céu à espera do próximo temporal. E torcer para que os estragos provocados pelas brincadeiras do El Niño não afetem de forma severa a nossa região.