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Com produção local, curta-metragem aborda a cultura negra

09 de Outubro de 2018 às 00:14

Produção local contempla a cultura negra O ator e produtor cultural Marco Antonio Fera foi o proponente do projeto premiado. Crédito da foto: Frederico Caboaros

A história de amor entre dois jovens negros, moradores da periferia e aspirantes a jogadores de futebol profissional, será contada no filme “Estrela solitária”, previsto para ser rodado em Sorocaba no início de 2019. O curta-metragem de ficção foi um dos 12 projetos premiados no edital de Apoio, proteção e promoção das culturas negras no Estado de São Paulo, do Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Estado da Cultura.

De acordo com o proponente do projeto, o ator e produtor cultural Marco Antonio Fera, o curta de ficção será filmado entre janeiro e fevereiro em diversas locações da cidade e o lançamento deve ocorrer em março, com intuito de que o curta participe do maior número de festivais de cinema ao longo de 2019. O artista destaca que todo o elenco e a equipe técnica do filme serão compostas por profissionais negros. “Fico muito lisongeado, como produtor, de ter a possibilidade de poder escolher uma equipe cem por cento negra e com excelente formação em suas respectivas áreas. Isso ajuda a combater o preconceito que não existem profissionais negros capacitados”, afirma.

O produtor cita o estudo “Diversidade de Gênero e Raça nos lançamentos brasileiros de 2016”, divulgado pela Ancine no início deste ano, que aponta que 75,4% dos diretores desses longas são homens brancos e 19,7%, mulheres brancas. Os homens negros, por outro lado, dirigiram 2,1%, e as mulheres negras não assinaram a direção de nenhum dos 142 filmes. “Se olharmos para a equipe técnica, a presença de profissionais negros não passa de 3%”, comenta, destacando, ainda, a importância do edital de fomento, como o do ProAC, para a “afirmação e impulsionamento” da cultura negra.

“Estrela solitária” terá direção do cineasta Iwan Silva, que também assina o roteiro, desenvolvido a partir do argumento inicial elaborado por Marco Antonio Fera. “O filme vem para discutir a masculinidade negra e LGBT”, comenta o produtor, que há anos já vem desenvolvendo pesquisa sobre o tema por meio do grupo Traça de Teatro, de Sorocaba, do qual é fundador. O enredo conta a história de dois jovens da periferia que buscam a ascensão social por meio do futebol. As complexidades sociais e individuais emergem quando um deles é aprovado em uma peneira e o outro não. “É um filme leve, sobre amor, mas que é permeado por uma série de camadas mais complexas”, antecipa.

Além do diretor e roteirista Iwan Silva e Fera, que também assina a produção geral e artística, fazem parte do projeto os atores Flávia dos Prazeres e Vinicius Bernardo, Valter Rege (assistente de direção), Vine Ferreira (direção de fotografia), Tatiane Ursulino (operação de câmera e som), Victor Apolinario (figurino), Mayara Izabel (maquiagem) e Quelli Bedeschi (produção executiva).

Contrapartida

De acordo com o projeto, as exibições do curta serão seguidas por rodas de conversa com a equipe do filme e, como contrapartida social, serão oferecidas oficinas gratuitas de produção audiovisual, como captação e edição de vídeo no celular e elaboração de roteiro e de e webativismo. “A ideia é ensinar como utilizar a internet para ter voz e instituir o seu próprio discurso”, comenta Fera, que mantém no Youtube o canal “Pretinho mais que básico, criado com intuito de ser um lugar de diálogo e experimentação sobre cultura e arte negra e que já recebeu participações de nomes como Elza Soares, Liniker, As Bahia e a Cozinha Mineira, Linn da Quebrada, entre outros. As inscrições para as oficinas serão abertas no ano que vem.

Um total de 162 projetos de todas as regiões do estado concorreram ao edital de e Apoio, proteção e promoção das culturas negras. A relação dos contemplados, que receberão prêmio de R$ 40 mil cada, foi divulgada no último sábado no Diário Oficial do Estado. (Felipe Shikama)