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Modesta contribuição

06 de Dezembro de 2019 às 00:01

Nelson Fonseca Neto - [email protected]

Estamos numa época complicada do ano. A correria das festas já começou para muita gente. Há que se ter ânimo de maratonista para encarar a sequência de amigos secretos, ceias e almoços. Fácil constatar o terror, difícil evitá-lo. Sendo assim, preparei uma lista de livros. Eles podem ser de enorme serventia para a travessia da tormenta. Também podem ser excelentes presentes.

“Filhos da noite”, de Dennis Lehane. Se você gostou do filme “O irlandês”, de Martin Scorsese, também gostará do romance de Lehane. Trata-se de um épico de gângster ambientado nos anos 20 e 30 dos EUA. Lehane merece ser lido porque alia, como poucos, aspectos históricos bem documentados com imaginação exuberante. “Filhos da noite” é a prova de que a boa literatura pode ter uma boa dose de entretenimento.

“A lei do cão”, de Don Winslow. É um catatau de quase 700 páginas. É um romance crucial para entendermos nossos tempos. É a radiografia do narcotráfico mexicano. O texto de Winslow é amparado por uma documentação maníaca. Encarar suas páginas é o antídoto contra opiniões superficiais, proferidas no aconchego do barzinho, sobre um assunto tão urgente.

“Antologia do humor russo”. Uma das joias do mercado editorial brasileiro nos últimos anos. Partindo de Gógol e chegando a autores contemporâneos, a antologia organizada pela professora Arlete Cavaliere mostra que o humor é algo que extrapola a torta na cara ou o escorregão na casca de banana. Mostra que o humor é afiado. Mostra que o humor é temido por tiranos. Mostra que o humor é o que temos de mais sublime.

“50 contos de Machado de Assis”. Machado de Assis deveria ser distribuído na cesta básica. Não é exagero. Você pode lê-lo umas duzentas vezes e sempre encontrará algo fascinante a cada releitura. Esse efeito está no DNA dos clássicos. Eles nunca se esgotam.

“O colecionador de sombras”, de Sérgio Augusto. Antologia que reúne textos sobre cinema. Sérgio Augusto é o nosso maior jornalista cultural. Seus ensaios são espantosos porque aliam erudição, informações minuciosas e ginga. Eles nunca aborrecem. Eles sempre instruem. Eles são uma aula de como um texto robusto também pode ser um ótimo papo.

Os romances de Raymond Chandler. Hoje perdemos a dimensão da revolução promovida por escritores como Dashiell Hammett e Raymond Chandler. Muitos dos seus textos foram publicados em revistas consideradas de quinta categoria. Não demorou tanto assim para que fossem conhecidos como brilhantes. São contos e romances ambientados nos EUA dos anos 30 e 40. Quase sempre são desagradáveis porque mostram uma sociedade gananciosa, corrupta, violenta e trapaceira. Desagradáveis; logo, necessários. A síntese desse prodígio é encontrada nos romances de Raymond Chandler. As investigações de Philip Marlowe mostram que o ser humano não é nada sublime.

“Trilogia USA Underworld”, de James Ellroy. Provavelmente os textos mais espantosos que vocês lerão nos próximos anos. Ellroy usa o trilho da história dos EUA dos anos 50 e 60 para construir um épico que abalará a maneira como enxergamos o poder, as celebridades, as maracutaias e outras bizarrices. O problema é que a gente sai da trilogia de Ellroy achando que os seres humanos são ratazanas.

Qualquer livro de Elmore Leonard. Aqui não tem erro. Pode ser qualquer um mesmo. Pode ser a vertente histórica. Pode ser a vertente de faroeste. Pode ser a vertente contemporânea. Leonard joga bem em todas as posições. Poucos conseguem, como ele, aliar extrema violência com humor.

Qualquer livro de Carl Hiaasen. Como no caso de Elmore Leonard, aqui também não tem erro. Hiaasen é mestre na arte de juntar coisas que, à primeira vista, nunca dariam certo: trama política, terrorismo ecológico, humor pastelão, análise de jornalismo. Hiaasen é um milagre.

Espero que a lista ajude a atravessar as semanas de mormaço, tender e filas.