Editorial
Itupararanga no foco do debate
A comunidade depende do bom funcionamento da represa. Ela é vital para o abastecimento de água potável para centenas de milhares de pessoas

A natureza é imprevisível. De um ano para outro, tudo pode mudar em uma determinada área geográfica. A seca que prejudicou as plantações numa safra pode ser substituída por temporais que arrasem as plantações e alterem a qualidade dos grãos. Num mesmo dia, o sol acompanhado de muito calor pode dar lugar a rajadas de vento vinda das áreas mais geladas do planeta.
Pesquisadores do mundo todo tentam, há décadas, prever com a máxima exatidão esses fenômenos com o intuito de proteger as comunidades e minimizar esses prejuízos que possam ser causados por essa força fora do nosso controle.
Mesmo com a tecnologia, é impossível antecipar a alteração que um terremoto na Indonésia pode provocar na neve dos alpes europeus ou mesmo nas águas do oceano Atlântico. Não dá para medir como a erupção de um vulcão na Islândia possa afetar o regime de chuvas na Amazônia. Tudo no mundo está interligado e conectado, só não se consegue entender todas as causas e efeitos de cada um desses fenômenos no nosso dia a dia.
A região de Sorocaba viveu, nos anos passados, queda na quantidade de chuva, principalmente no verão. Os reservatórios que abastecem as cidades foram bastante castigados e houve, até, a necessidade de racionamento e de rodízio na distribuição da água.
Este ano vivemos uma situação bem diferente. Os volumes de chuva estão bem acima do previsto e isso tem ajudado a recuperar o nível de nossas barragens e represas. Só que o excesso de chuva também causa alguns dissabores para a sociedade. A bola da vez é a centenária represa de Itupararanga, que além de gerar energia ainda é responsável pelo abastecimento de água para as cidades como Sorocaba e Votorantim.
As chuvas que se iniciaram em dezembro, entraram com força no mês de janeiro e a quantidade de água no reservatório tem subido diariamente. Da semana passada para essa, por exemplo, o volume subiu de 50% para 60% da capacidade, um incremento de quase 20% em pouco mais de 7 dias.
Diante da perspectiva de mais chuva, os administradores da barragem decidiram ampliar a vazão. Só que esse movimento provocou forte reação da prefeitura de Sorocaba. Na terça-feira, 17, o prefeito Rodrigo Manga convocou uma entrevista coletiva para externar sua preocupação com relação à possibilidade de o município ser afetado pelo aumento da vazão. Chegou a pedir intervenção estadual na administração da represa, pedido esse que foi negado após visitoria de técnicos ao local.
A preocupação de Manga é justa. Ao ser informado por técnicos da chance de a cidade sofrer com alagamentos, decidiu agir. Pode até ter errado um pouco na dose, mas demonstrou estar ligado e atento genuinamente com tudo que acontece em seus domínios.
Já Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que há tantos anos opera a represa, também tem seus argumentos para tomar essa ou outra medida. Não há ninguém que conheça tanto Itupararanga quanto eles. Se foi detectada a necessidade do aumento da vazão, é importante que, a jusante, todos se preparem para enfrentar essa quantidade extra de água.
A comunidade depende do bom funcionamento da represa. Ela é vital para o abastecimento de água potável para centenas de milhares de pessoas e sua operação não pode ser, em momento algum, negligenciada. É importante, nesse momento, que todos os órgãos envolvidos se unam e que haja cooperação. Politizar ou judicializar esse problema não trará ganhos a ninguém.
Todos os esforços devem se concentrar na fiscalização e no acompanhamento constante do nível de Itupararanga e da situação dos rios que fazem parte do sistema como um todo. Essa união vai permitir que anomalias sejam prontamente identificas e corrigidas, fazendo com tudo corra dentro da normalidade até que se encerre o período de chuvas intensas.