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Editorial

Hora de deixar as desavenças de lado

Difícil é encontrar um produto do nosso agronegócio que tenha tido um desempenho ruim em 2022

14 de Setembro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
A produção agrícola brasileira tem potencial de crescimento ainda maior nas próximas décadas
A produção agrícola brasileira tem potencial de crescimento ainda maior nas próximas décadas (Crédito: Divulgação)

O agronegócio brasileiro, entra ano e sai ano, vem ganhando destaque internacional por sua produtividade e capacidade de alimentar milhões de pessoas no mundo todo. Em pouco tempo estaremos superando os Estados Unidos nas exportações de milho e soja, uma façanha que jamais seria considerada possível na reta final do século 20.

Vinte anos atrás, o País celebrava o rompimento da marca de 100 milhões de toneladas de grãos. Agora produzimos, fácil, fácil, cerca de 320 milhões de toneladas. Esse avanço todo foi possível graças ao investimento constante em tecnologia, desde a melhoria das sementes até a logística de colheita, armazenamento e distribuição. A outra boa notícia é que esse salto na produção não foi conquistado com a ampliação excessiva da área plantada. Aprendemos a tratar melhor o nosso solo, recuperar áreas degradadas e acrescentar uma colheita extra, aproveitando o clima favorável em boa parte de nosso território.

O resultado de todo esse esforço está consolidado em um relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na quinta-feira, 14. Segundo os dados da pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2022, a safra agrícola brasileira alcançou valor de produção recorde de R$ 830,1 bilhões. Um crescimento de 11,8% ante o registrado no ano anterior.

O levantamento aponta que, com a restrição do comércio de algumas commodities agrícolas, como milho e trigo, por conta dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, e o dólar valorizado ante o real, os preços dos principais produtos agrícolas nacionais mantiveram-se em patamares elevados, beneficiando nossos produtores rurais e principalmente o País que viu um valor maior de divisas entrando.

De acordo com o IBGE, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas alcançou 263,8 milhões de toneladas no ano passado, 3,8% acima de 2021. A área colhida chegou a 90,4 milhões de hectares, 5,4% superior à de 2021.

O cenário de incerteza global contribuiu para esse incremento no faturamento. No caso da soja, por exemplo, a produção caiu cerca de 10%, para 120,7 milhões de toneladas, na comparação com 2021. Mesmo assim, o valor das exportações teve um aumento de 1,3% e atingiu os R$ 345,422 bilhões.

Já o milho, que teve desempenho melhor durante a safra, apresentou um acréscimo de 18,6% em valor de produção, na comparação com 2021. As 109,4 milhões de toneladas colhidas renderam R$ 137,744 bilhões em valor bruto.

Saindo do campo dos cereais e oleaginosas, a cana-de-açúcar totalizou 724,4 milhões de toneladas de produção. Um aumento de 1,2% na safra ante 2021, mas um crescimento financeiro de 24,2% se comprado com o mesmo período.

Difícil é encontrar um produto do nosso agronegócio que tenha tido um desempenho ruim em 2022. A agilidade do Ministério da Agricultura, comandado pela agora senadora Tereza Cristina, foi fundamental não só para suprir o setor com insumos, mas para planejar um excelente desempenho para o Brasil nas próximas safras.

Na contramão desse desempenho positivo está a agricultura familiar. Os pequenos produtores, que vendem mais para o mercado interno, não conseguiram se beneficiar tanto da onda surfada pelo agronegócio. Resultado, muitos tiveram prejuízo e estão endividados.

Por conta desse cenário, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado precisou aprovar, na quarta-feira, 13, um projeto de lei que anistia dívidas de crédito rural de produtores familiares de Estados que registraram estiagem prolongada ou excesso de chuvas no período de 2021 a 2023. A medida vai valer para aqueles municípios que declararam situação de emergência e calamidade pública reconhecida, o que levou à perda da safra por estes agricultores. Esse projeto vai agora para a Comissão de Assuntos Econômicos, em caráter terminativo, ou seja, sem necessidade de aprovação pelo plenário da Casa.

A anistia vai incluir, principalmente, produtores afetados pelos ciclones extratropicais neste ano no Rio Grande do Sul. O benefício deve atender os agricultores familiares que comprovarem perda de pelo menos 50% da sua produção agrícola devido à estiagem ou de excesso hídrico e que tenham operações de crédito da agricultura familiar contratadas.

O relator do projeto, senador Jorge Seif (PL-SC), garantiu que essa anistia não vai comprometer a tomada futura de recursos.

O ideal, nesse momento, é que sejam estreitadas as relações entre o agronegócio e a agricultura familiar. Que os dois setores possam se unir em prol do desenvolvimento econômico do Brasil. Sem brigas e disputas, temos a capacidade de transformar o País no maior exportador mundial de alimentos e falta muito pouco para atingirmos esse patamar.