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É importante reconhecer as emoções

02 de Julho de 2019 às 22:42

Psiquiatra e escritor Wimmer Bottura Júnior fala em palestra sobre transtornos emocionais. Crédito da Foto: Divulgação

“A lógica não explica a vida. O que explica a vida é o afeto”. A definição sobre saúde emocional, é do médico psiquiatra e escritor Wimmer Bottura Júnior, que na última sexta-feira esteve na cidade para palestrar, na Faculdade Esamc, sobre Transtornos Emocionais na Atualidade, falando sobre equilíbrio emocional e os principais transtornos que atualmente são diagnosticados, inclusive na população mais jovem. “Quando as pessoas não identificam as alterações dos ciclos emocionais, seja internamente ou fisicamente, acabam procurando um Pronto Atendimento, onde, na maioria das vezes, não são detectados os sinais psíquicos que podem ocasionar o sofrimento”, comentou o médico que é também presidente Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (ABMP), além de integrar o grupo de professores da cadeira de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), além de já ter palestrado em congressos mundiais de Psiquiatria na Alemanha, Holanda e Itália.

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Em entrevista concedida por telefone, o psiquiatra explicou que ninguém é 100% saudável, mas que o conceito de saúde emocional pode ser atribuído às pessoas que conseguem diagnosticar o tipo de emoção sentida e porquê a sentem. O especialista também destacou que, ao contrário de décadas atrás, atualmente a ciência estuda a promoção da saúde, enquanto os estudos anteriores partiam das doenças clínicas.

Isso porque, conforme atenta Wimmer Bottura, antigamente a emoção era associada à sintoma de fraqueza, de fracasso, e consequentemente às mulheres, pelo fato de elas nunca esconderem seus sentimentos. “Tudo que fosse doença emocional, era doença de gente fraca, mas na verdade, todas as doenças têm componente emocional”, afirma.

Nessa mesma linha de raciocínio, antigamente, se uma doença era bacteriana, não havia relação com o emocional. Hoje porém, é reconhecido que tem as causas funcionais, mas que se o indivíduo estiver bem emocionalmente, a chance de ficar doente é menor, destaca o psiquiatra.

Hoje no entanto isso mudou tanto, que segundo o médico, não ocorre mais dos pacientes das clínicas de psicologia e psiquiatria terem vergonha em admitir que fazem tais tratamentos.

A raiva

Grande parte dos transtornos atuais, diz o médico, está relacionado com a repressão do sentimento da raiva, que ele afirma existir, mas que também pode ser compreendida como uma autodefesa. Para ilustrar a situação, ele citou dois exemplos. O primeiro versa sobre a pessoa ter uma cachorra com comportamento dócil, mas que pode rosnar pa seu dono se por acaso ele tentar se aproximar dos filhotes recém nascidos: “isso não significa que o animal vai atacar seu dono, mas que naquele momento só quer defender sua cria”. Outro exemplo é de relacionamento familiar: o filho pode se revoltar com o pai ao ser contrariado em alguma coisa, mas isso não implica que deixará de amá-lo.

Entretanto, Wimmer Bottura atenta que a raiva pode desencadear quatro caminhos, dos quais só um é positivo. O primeiro deles é o de agredir quem você acha que te agrediu, pois nem sempre isso aconteceu de fato. O segundo se refere a sair agredindo todos à sua volta, ocasionando apenas mais problemas dos que já possa possuir. Na sequência, o terceiro caminho, e o mais perigoso de acordo com o médico, é a pessoa projetar toda raiva em si própria, entrando num quadro de autodestruição, e já a quarta implicação da raiva, e portanto a mais sensata, é desestressar de forma adequada, por meio de terapia, onde o indivíduo não terá retorno daquele sentimento, mas sim entender sua origem e como tratá-lo.

Jovens

Embora considere que as gerações atuais são melhores que as mais velhas por terem mais verdades, as passadas tinham quadro de referência definido, sabendo mostrar aos filhos o que era certo e errado. Mas, com a modernidade da sociedade, se perderam os conceitos do certo e errado, chegando ao ponto dos pais, temerosos em perder o amor dos filhos, acabam não colocando limites em suas educações, sem perceber que “não devem querer poupar os filhos das dores necessárias na vida, como a frustração, saber esperar”, e acrescenta que, “os pais agindo dessa maneira farão com que os filhos deixem de lidar com a frustração, com o desejo, pois se recebem tudo também não terão desejo, e os filhos vão sofrer por isso”. (Adriane Mendes)