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Como aliviar os efeitos do isolamento

01 de Julho de 2020 às 00:01

Como aliviar os efeitos do isolamento Estudos já comprovaram a eficiência da música em situações que requerem tranquilidade. Crédito da foto: Divulgação / Getty Images

Há meses, em função da pandemia da Covid-19, as pessoas têm acumulado sentimentos de medo, tristeza, expectativa, frustração e ansiedade, entre outros. Mas, segundo especialistas, é possível aliviar essas sensações buscando alternativas por meio dos cinco sentidos (visão, tato, audição, olfato e paladar). “Os órgãos dos sentidos são responsáveis por captar as sensações provocadas pelo meio externo e enviá-las ao sistema nervoso central, que registra e processa a informação recebida. Por isso, explorar cada um destes sentidos pode nos ajudar a compreender e lidar melhor com as emoções e os acontecimentos ao nosso redor”, afirma a psicóloga Flávia Teixeira, mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduada em Psicossomática Contemporânea.

Como Flávia, outros especialistas também dão dicas de como minimizar os impactos negativos do momento atual e ganhar qualidade na saúde mental e física:

Visão: janela para a alma

O olho humano permite ver e entender os diversos elementos do ambiente, sendo um importante meio de desenvolver o pensamento e a comunicação. E, de fato, os olhos podem realmente ser a janela para a alma. É o que sugere um estudo da Universidade Yale, nos Estados Unidos, que concluiu que a maioria das pessoas sente intuitivamente que seu “eu”, também conhecido como a sua alma ou ego, tem uma forte conexão com o olhar.

“A parte do cérebro em que a autoconsciência surge, chamada córtex pré-frontal ventromedial, está localizada atrás dos olhos. Talvez por isso as pessoas tenham essa sensação, já que parte da nossa percepção emerge nos neurônios dessa região”, justifica a psiquiatra Danielle Admoni, especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

“Por isso, nestes tempos em que nossos olhos estão cansados de tantas imagens e notícias tristes, é fundamental adotar algumas mudanças. Uma delas é não permanecer no mesmo lugar por muito tempo. Isso ajuda a mudar a perspectiva ou a lente com a qual estamos enxergando uma situação. Ausentar-se por uns instantes de um ambiente tenso clareia nosso olhar, o modo como estamos enxergando algum problema. Esse recuo momentâneo ajuda a monitorar com mais consciência nossos estados internos. Os olhos agradecem (e a mente também)”, afirma Danielle.

Tato: terapia de toque

O tato é responsável pela percepção de cinco sensações básicas: contato, pressão, frio, calor e dor, transmitidas da superfície da pele ao cérebro. Ainda que esteja mais relacionado às mãos, o tato envolve qualquer tipo de sensação experimentada pela pele. “O toque consegue produzir no corpo uma sensação de segurança e proteção. Além disso, propicia efeito de homeostase, habilidade de manter o meio interno em equilíbrio quase constante, independentemente das alterações que ocorram no ambiente externo”, diz Flávia.

E quando se fala em toque, vem à mente a massagem, prática milenar que já foi adotada por muitos hospitais para complementar o tratamento de doenças como enxaqueca, escoliose, má circulação, fibromialgia e hipertensão.

De acordo com a psiquiatra Danielle Admoni, as terapias de toque são milenares. Entre os efeitos positivos da massagem estão o aumento da atenção, a redução da dor e dos hormônios estressores. Ela também é uma boa aliada contra a insônia.

Audição: o dom da escuta

A capacidade de perceber sons é possível graças ao ouvido, que possui receptores de ondas sonoras, transformadas em impulsos elétricos que, por sua vez, levam as informações até o cérebro. Além de melhorar os relacionamentos interpessoais e desenvolver a capacidade de compreensão, o dom da escuta combate o envelhecimento do cérebro e ajuda na prevenção do Alzheimer, segundo estudos do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP). “Quando uma pessoa expõe suas emoções para outra, circuitos cerebrais relacionados ao bem-estar provocam a liberação do neurotransmissor dopamina. Daí a importância de estar em conexão com as pessoas, ainda que seja por meios virtuais”, reforça Cristiane Romano, fonoaudióloga, mestre e doutora em Ciências e Expressividade pela USP.

A música clássica é outro aspecto que traz benefícios no momento atual, contribuindo para a saúde mental. Um estudo da Universidade de Stanford constatou que, ao ouvir música clássica, o fluxo de sangue aumenta em diversas áreas do cérebro, ativando regiões ligadas à autonomia, cognição e emoção, ao mesmo tempo em que outras áreas liberam dopamina.

Diversos estudos científicos já comprovaram a eficiência da música em situações que requerem tranquilidade.

Olfato: cheiro de infância

Como aliviar os efeitos do isolamento Cuidar de plantas também faz as pessoas manterem a serenidade e o bem-estar. Crédito da foto: Divulgação / Getty Images

O olfato é identificado no cérebro em uma área ligada à emoção. Ele nos permite perceber e caracterizar o mundo que nos cerca. Um dos benefícios deste sentido é a memória olfativa. Quando adultos sentem algum cheiro que lembra a infância ou algum momento de alegria, automaticamente, o cérebro associa a experiência anterior, trazendo do hipocampo a memória olfativa correspondente aquela lembrança. “Os cheiros da infância permanecem em nossos cérebros como fortes conexões a um passado emocional que, vez ou outra, acessamos para nos lembrar de momentos felizes”, afirma a pediatra Andressa Tannure, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e especialista em Suporte de Vida em Pediatria pelo Instituto Sírio-Libanês.

Cuidar de plantas igualmente gera uma resposta importante contra depressão, ansiedade e até transtorno bipolar. O contato direto com a natureza libera mais serotonina, é terapêutico. Além disso, cores, cheiros e sons são ótimos estimulantes do sistema cognitivo.

Paladar: sabor com saúde

O paladar, juntamente ao olfato, é responsável por garantir a percepção do sabor e da textura dos alimentos. “A língua é o órgão responsável pelo sentido do paladar, pois capta e diferencia o sabor dos alimentos (salgado, doce, azedo, amargo), além das sensações de quente e frio”, explica Kamila Godoy, dentista, membro da Associação Brasileira de Ortodontia e pesquisadora da Faculdade de Odontologia da USP.

Segundo Flávia Teixeira, a gustação é considerada um sentido ligado ao prazer. “No cenário atual, muitas pessoas acabam se rendendo a alimentos que ativam o sistema límbico no cérebro, responsável pelas emoções. Ao comer doces, por exemplo, há uma diminuição momentânea da ansiedade. Além disso, o doce é muito palatável, o que torna a inclinação a comê-lo ainda maior”, esclarece a psicóloga.

Entretanto, há formas de gerenciar a ansiedade com uma alimentação mais saudável. Frutas cítricas possuem grande quantidade de vitamina C, que atua na redução do cortisol. “A liberação do cortisol pela glândula adrenal ocorre em resposta aos episódios de estresse, que contribuem para aumentar a ansiedade”, explica a psicóloga. Já a banana contém grande quantidade de triptofano, um aminoácido essencial para ajudar na liberação da serotonina. A fruta também possui potássio e magnésio, controladores do equilíbrio iônico, necessário às reações orgânicas. “Quando esses elementos estão estáveis, promovem relaxamento e um sono tranquilo, condição ideal para a liberação de mais serotonina”.

O espinafre é rico em ácido fólico, cuja função antidepressiva natural é relevante no combate aos sintomas da ansiedade, completa. (Da Redação)

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