Governo enfraquecido
Deputados franceses pedem a saída do presidente Macron
Crise política abala segunda maior economia da União Europeia

Os deputados de esquerda e de extrema direita derrubaram o governo do primeiro-ministro francês, Michel Barnier, com pedidos de renúncia para o presidente Emmanuel Macron, em meio a uma crise política na segunda maior economia da União Europeia (UE).
Por 331 votos a favor, acima da maioria absoluta, de 288, a Assembleia Nacional (Câmara baixa) pôs fim ao governo de Barnier, que durou menos de cem dias, rejeitando, ainda, seu orçamento para 2025.
Embora a censura não afete Macron, cujo mandato termina em 2027, ela o enfraquece ainda mais, especialmente após ele ter decidido nomear Barnier, de 73 anos, como primeiro-ministro em setembro, em nome da “estabilidade”.
“Para sair do beco sem saída no qual o presidente colocou o país, resta uma solução: pedimos agora a Emmanuel Macron que saia”, declarou a deputada Mathilde Panot, do partido da esquerda radical A França Insubmissa (LFI). Sem pedir diretamente sua renúncia, a líder do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN), Marine Le Pen, desafiou Macron, com quem disputou a Presidência em 2017 e 2022, a refletir se pode continuar no cargo.
“Cabe à sua consciência decidir se pode sacrificar a ação pública e o destino da França por seu orgulho. Cabe à sua razão decidir se pode ignorar a evidência de um repúdio popular maciço”, destacou.
Macron, que chamou de “ficção política” a ideia de renunciar antes do fim de seu segundo mandato, deve fazer um pronunciamento em discurso televisionado hoje (5) à noite, anunciou seu gabinete.
Marine Le Pen aparece com força nas pesquisas para a presidência, mas a Justiça pode frustrar seu sonho se, em 31 de março, decidir inabilitá-la por cinco anos, como solicitou o Ministério Público em um caso de malversação de fundos da União Europeia.
O sucesso da moção de censura tornou o governo de Barnier no mais breve da Quinta República francesa.
Sem poder convocar novas eleições legislativas até julho próximo, o presidente Macron parece disposto a nomear um novo primeiro-ministro “rapidamente”, antes mesmo da cerimônia de abertura da catedral de Notre Dame, prevista para o fim de semana, segundo seus interlocutores.
Macron insistiu que cumprirá o resto do mandato até 2027. Voltando de uma visita presidencial à Arábia Saudita, ele disse que as discussões sobre sua possível renúncia eram “política de faz de conta”, de acordo com relatos da mídia francesa. “Estou aqui porque fui eleito duas vezes pelo povo francês”, disse Macron. Ele também teria dito: “Não devemos assustar as pessoas com essas coisas. Temos uma economia forte.” (AFP e Estadão Conteúdo)