Internacional
Cúpula do Mercosul termina com divergência entre países
Uruguai se recusou a assinar o documento final do encontro
Em um sinal claro de divergência com os demais países do bloco, o Uruguai decidiu, pela quarta vez seguida, não assinar o comunicado conjunto dos titulares do Mercosul. A cúpula de chefes de Estado do Mercosul ocorreu nesta terça-feira, 4, em Puerto Iguazú, na Argentina.
Sem o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, assinam o documento os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Alberto Fernández (Argentina) e Mario Abdo Benítez (Paraguai).
O Uruguai reclama do protecionismo do Mercosul, que considera exacerbado, e negocia de forma unilateral um tratado de livre-comércio com a China à revelia dos demais países do bloco. O país cobra mudanças no regimento interno para ficar no Mercosul.
No comunicado conjunto, Brasil, Argentina e Paraguai se comprometem em discutir mudanças, embora não citem diretamente as demandas do Uruguai.
Venezuela
Durante o encontro, o presidente Lula, em pronunciamento após assumir a presidência pró-tempore do Mercosul, afirmou que a Venezuela enfrenta problemas com a democracia, q que essas questões devem ser enfrentadas.
‘Em relação à Venezuela, todos os problemas que a gente tiver em democracia, a gente não se esconde deles, a gente enfrenta. Eu não conheço pormenores do problema com a candidata da Venezuela, pretendo conhecer‘, afirmou o petista. ‘Temos que conversar. O que não pode é isolar, e levar em conta que apenas os defeitos estão de um lado. Os defeitos são múltiplos. Precisamos conversar com todo mundo‘, acrescentou Lula.
Lula não citou quais os ‘problemas‘ da Venezuela, ditadura aliada do PT marcada por violações de direitos humanos, e reafirmou sua convicção sobre a necessidade de unir o Mercosul.
A mudança de posição de Lula, menos favorável à situação da Venezuela, ocorreu depois que os presidentes de Uruguai e Paraguai expressaram ‘preocupação‘ com a inabilitação política da pré-candidata da oposição à Presidência da Venezuela, María Corina Machado.
‘A inabilitação‘ de Machado ‘choca frontal e escandalosamente com a clara carta dos direitos humanos‘, disse o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez. ‘As restrições aos direitos políticos pela via administrativa sempre devem ser vistas com suspeita e consideradas legalmente inválidas‘, acrescentou o paraguaio.
O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, concordou que a falta de democracia na Venezuela é grave. ‘Está claro que a Venezuela não vai sair para uma democracia saudável, e quando há um indício de possibilidade de uma eleição, uma candidata como María Corina Machado, que tem um enorme potencial, é desqualificada por motivos políticos, e não jurídicos‘, afirmou o governante. ‘O Mercosul tem que dar um sinal claro para que o povo venezuelano possa se encaminhar em direção a uma democracia plena que hoje claramente não tem‘, acrescentou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse desconhecer os detalhes do caso Machado, mas pediu para não ‘isolar‘ a Venezuela. (Da Redação com informações da AFP e Estadão Conteúdo)