Internacional
Biden pede fim do bloqueio político na Irlanda do Norte
O presidente também afirmou que manter a paz duramente conquistada há duas décadas e meia é uma 'prioridade' para os Estados Unidos
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um apelo nesta quarta-feira (12) por um compromisso na Irlanda do Norte para que o país consiga sair do atual cenário de bloqueio das instituições, no 25º aniversário dos acordos de paz na província britânica. "Espero que o Executivo e a Assembleia (da Irlanda do Norte) sejam restabelecidos em breve", afirmou Biden em um discurso na Universidade de Belfast, durante o qual também pediu aos líderes dos principais partidos locais que retomem o governo, bloqueado desde fevereiro do ano passado, devido às consequências do Brexit.
Biden também afirmou que manter a paz duramente conquistada há duas décadas e meia é uma "prioridade" para os Estados Unidos. A paz e a estabilidade devem ser preservadas sempre, acrescentou, antes de recordar que a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 provou que, em cada geração, "a democracia precisa de campeões".
O acordo histórico, assinado em 1998, acabou com três décadas de conflito entre os nacionalistas pró-Irlanda, em sua maioria católicos e favoráveis a uma reunificação, e os unionistas pró-Grã-Bretanha, majoritariamente protestantes e que desejam permanecer no Reino Unido. A violência de três décadas de conflito deixou 3.500 mortos e algumas feridas permanecem abertas, como demonstrou na segunda-feira um incidente na cidade fronteiriça de Londonberry, onde jovens encapuzados lançaram bombas incendiárias contra viaturas da polícia.
Belfast é a primeira etapa de uma viagem que também tem um aspecto sentimental para Biden, que durante a tarde viajará para a República de Irlanda, terra de seus antepassados. O presidente Biden chega como um "amigo da Irlanda do Norte", declarou uma suas conselheiras, Amanda Sloat, em uma tentativa de aliviar as críticas do lado unionista, que defende a permanência no Reino Unido.
A prioridade da visita é "manter a paz", arduamente negociada há 25 anos na Irlanda do Norte, insistiu o presidente ao embarcar na terça-feira no Air Force One. Outra prova das profundas divisões: as instituições autônomas, onde republicanos e unionistas devem compartilhar o poder com base no acordo de 1998, estão bloqueadas porque o Partido Unionista Democrático (DUP), o principal partido unionista, nega-se a participar do governo.
"Antibritânico"
Biden, de origem irlandesa, também se reuniu nesta quarta-feira com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que declarou que as relações entre Reino Unido e Estados Unidos estão em "grande forma". Mas alguns líderes do DUP não pensam da mesma maneira e criticaram a visita do presidente democrata.
Para o deputado Sammy Wilson, do DUP, Biden é "antibritânico" e apoiou a União Europeia (UE) nas negociações pós-Brexit. "Acredito que nenhum de nós vai correr para recebê-lo", declarou ao jornal conservador Daily Telegraph. "Qualquer pressão de uma administração americana tão claramente pró-nacionalista não constitui nenhuma pressão para nós", acrescentou outro membro do partido unionista, Nigel Dodds.
"As atividades passadas do presidente mostram que não é antibritânico", embora tenha "orgulho" de suas origens irlandesas, afirmou Amanda Sloat, conselheira do presidente democrata. Depois da rápida passagem por terras britânicas, Biden viaja, à tarde, para a República da Irlanda, onde tem suas raízes.
Origem irlandesa
O democrata, que também visitou a Irlanda como vice-presidente de Barack Obama, afirma com orgulho que é descendente de irlandeses que buscaram uma vida melhor nos Estados Unidos no século XIX. A Casa Branca, inclusive, divulgou uma árvore genealógica para a imprensa e um bom compêndio de anedotas sobre os ancestrais do presidente.
A visita também exibe uma mensagem sobre a intenção de Biden de disputar a reeleição em 2024: demonstrar para uma classe média desmoralizada que o "sonho americano" não morreu, ao se apresentar como descendente de uma família modesta e trabalhadora.
Biden pretende visitar duas regiões irlandesas, onde os genealogistas encontraram vestígios de seus ancestrais: Louth e Mayo. Nestas localidades, a recepção será mais calorosa do que em Belfast. Em Ballina, pequena cidade do noroeste de onde vem sua família, o pub local foi decorado com bandeiras dos Estados Unidos desde a vitória de Biden nas eleições presidenciais.
Entre as duas etapas da viagem, Biden visitará Dublin. Lá, terá reuniões e discursará para os deputados irlandeses. (AFP)