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Internacional

Para ativistas, fim da polícia da moral é uma estratégia

Relatos de Teerã apontam que a patrulha da moral continua nas ruas da cidade

06 de Dezembro de 2022 às 00:01
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O porta-voz do governo iraniano Nasser Kanani, ontem
O porta-voz do governo iraniano Nasser Kanani, ontem (Crédito: ATTA KENARE / AFP)

Ativistas e observadores dos direitos humanos no Irã alegaram nesta segunda-feira (5) que o anúncio de que o governo estaria extinguindo a polícia da moralidade é apenas uma estratégia de desinformação e não reduz a repressão do regime teocrático contra os manifestantes e as mulheres do país. Relatos de Teerã apontam que a patrulha da moral continua nas ruas da cidade, e meios de comunicação estatais questionam se o anúncio feito pelo procurador-geral do país tem validade perante o governo islâmico.

Na noite do sábado, o procurador-geral iraniano, Mohammad Javad Montazeri, afirmou durante uma entrevista coletiva que a polícia da moral havia sido extinta e o Judiciário continuaria zelando pelas ações comportamentais da sociedade.

A fala do procurador repercutiu ao redor do mundo, mas foi contestada por mulheres e ativistas iranianas que foram às redes sociais para denunciar o suposto desmantelamento da força policial como uma tática de propaganda do governo para desviar a atenção das demandas mais abrangentes dos protestos, que pedem o fim do regime teocrático.

“É desinformação que a República Islâmica do Irã aboliu sua polícia moral. É uma tática para parar os protestos. Os manifestantes não estão enfrentando armas e balas para abolir a polícia da moralidade ou o uso forçado do hijab. Eles querem acabar com o regime islâmico”, escreveu a jornalista e ativista iraniana Masih Alinejad no Twitter.

Não ficou claro se a declaração de Montazeri corresponde a uma decisão final do governo teocrático. “A República Islâmica muitas vezes testa ideias lançando-as para discussão”, disse Sanam Vakil, vice-diretora do programa para Oriente Médio e Norte da África da Chatham House, de Londres. “A declaração de Montazeri não deve ser lida como final.”

A polícia da moralidade iraniana foi criada para fiscalizar e garantir o cumprimento das leis relacionadas ao código de vestimenta islâmico, imposto após a Revolução de 1979. A onda de protestos teve início após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia da polícia da moralidade.

Execuções

O Irã executou mais de 500 pessoas desde o início de 2022, um número muito maior do que em todo ano passado disse a ONG norueguesa Iran Human Rights (IHR) ontem (5). De acordo com a ONG, pelo menos 504 pessoas foram executadas este ano. A organização ainda está em processo de confirmação de casos adicionais de pessoas que teriam sido enforcadas.

Este número se soma às crescentes preocupações com o uso da pena de morte por parte das autoridades iranianas contra as pessoas que participaram dos protestos contra o governo em setembro no Irã. (Estadão Conteúdo e AFP)