Internacional
União Europeia inicia discussão sobre veto aos turistas russos
A suspensão do acordo de vistos de turismo gera fortes divisões dentro do bloco
Os ministros europeus das Relações Exteriores iniciarão na terça-feira (30) em Praga uma difícil discussão sobre a suspensão do acordo de vistos de turismo com a Rússia, uma uma iniciativa que gera fortes divisões dentro do bloco.
Os países bálticos, Polônia e Finlândia defendem uma posição comum do bloco europeu sobre a proposta, que será o ponto central da agenda em uma reunião que começará na terça-feira em Praga.
A medida não tem precedentes na União Europeia (UE), mas alguns países vizinhos da Rússia adotaram iniciativas unilaterais para limitar os vistos a cidadãos russos.
Como parte das sanções pela guerra na Ucrânia, a UE já proibiu os vistos para determinados cidadãos vinculados ao governo russo, mas a emissão de vistos de turismos não foi suspensa.
Nesta segunda-feira, um diplomata europeu afirmou que os ministros das Relações Exteriores devem debater a suspensão do acordo de facilitação de vistos assinado em 2007 entre o bloco e a Rússia.
A medida, no entanto, incluiria exceções relacionadas à sociedade civil russa, casos humanitários e estudantes.
"Não podemos manter a política de vistos como até o momento", disse o diplomata, ao antecipar que a medida poderia ser incluída em um próximo pacote de sanções da UE contra a Rússia pela invasão da Ucrânia.
Pedido da Ucrânia
A ideia foi apresentada pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, que pediu aos países ocidentais o fechamento de suas fronteiras a todos os cidadãos russos, incluindo os turistas, alegando que deveriam "viver em seu próprio mundo até que mudem de filosofia".
O chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, disse que os russos "apoiam em grande maioria a guerra, aplaudem os ataques com mísseis em cidades ucranianas e (o) assassinato de ucranianos. Deixemos que os turistas russos aproveitem a Rússia então".
O governo da Rússia reagiu com indignação e chamou a ideia de "irracional", além de prometer represálias.
Finlândia sai na frente
A Finlândia, país que tem a maior fronteira da Europa com a Rússia, limitará a partir de quinta-feira (1) os vistos de turismo para cidadãos russos a 10% do volume atual. No momento, a Finlândia processa mil solicitações de vistos por dia procedentes da Rússia.
A lei finlandesa não permite uma proibição total da concessão de vistos com base na nacionalidade do solicitante
A medida decidida pela Finlândia, no entanto, terá um impacto: como as sanções da UE fecharam o espaço aéreo aos voos procedentes da Rússia, muitos cidadãos deste país utilizavam rodovias através da Finlândia para chegar a outros países europeus.
Letônia, Lituânia e Polônia interromperam a emissão de novos vistos de turistas para cidadãos russos no início da invasão da Ucrânia.
Entrada no espaço Schengen
Os turistas russos utilizam os vistos para o espaço Schengen, normalmente válidos em 26 países da UE e em Estados associados como Suíça e Noruega. Estes vistos geralmente permitem estadias de até 90 dias em um período renovável de 180 dias.
Estes 26 países receberam quase três milhões de solicitações de visto para o espaço Schengen no ano passado. E os russos representaram o grupo mais numeroso, com 536.000 demandas.
As sanções da UE exigem a unanimidade dos 27 Estados-membros, mas a Hungria, país que mantém laços amistosos com a Rússia, poderia vetar uma proibição de vistos em todo o bloco.
A Lituânia sugeriu que, se uma proibição em toda a UE não for aprovada, seria possível buscar uma "solução regional", possivelmente incluindo Letônia, Estônia, Finlândia e Polônia, para vetar a presença de turistas russos.
"Erro de análise"
Marie Dumoulin, do grupo de especialistas do Conselho Europeu de Relações Exteriores, afirma que o pedido de proibição de russos na Europa constitui "um perigoso erro de análise'.
"Menos de 30% dos russos têm passaporte. E seus principais destinos de viagens são Turquia, Egito e Emirados Árabes Unidos', disse.
De acordo com Dumoulin, uma proibição a tais vistos "terá exatamente o efeito contrário ao procurado: ao estigmatizar todos os russos, estamos alimentando a propaganda do Kremlin que há vários anos, e em particular desde o início da ofensiva na Ucrânia, denuncia a suposta russofobia dos ocidentais".
Cyrille Bret, do Instituto Jacques Delors, afirma que a medida é contrária à liberdade de circulação e à política de sanções adotada até agora, que afirma que não é contra o povo russo, e sim contra o regime". (AFP)
Galeria
Confira a galeria de fotos