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Internacional

Ataque russo ao porto de Odessa pode prejudicar acordo de cereais

24 de Julho de 2022 às 00:01
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Toneladas de grãos aguardam embarque em no porto de Odessa
Toneladas de grãos aguardam embarque em no porto de Odessa (Crédito: OLEKSANDR GIMANOV / AFP)

A Ucrânia acusou a Rússia, ontem (23) de lançar mísseis contra o porto estratégico de Odessa e de ‘quebrar suas promessas‘, um dia depois de Moscou e Kiev selarem um acordo há muito esperado para retomar as exportações de grãos, bloqueadas pela guerra.

‘O porto de Odessa foi atacado especificamente quando cargas de cereais estavam sendo processadas. Dois mísseis atingiram as infraestruturas do porto, onde obviamente há cereais. Eles atacaram um território onde há grãos‘, afirmou o porta-voz militar Yuriy Ignat, acrescentando que outros dois mísseis foram interceptados.

‘Isso prova que não importa o que a Rússia diga ou prometa, sempre vai encontrar uma maneira‘ de não cumprir os acordos, reagiu o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em uma reunião com legisladores americanos, segundo um comunicado.

A Rússia não se pronunciou oficialmente sobre esta acusação, mas segundo o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, o país nega ter atacado o porto, um dos designados para a exportação de cereais.

O bombardeio ocorreu menos de 24 horas depois que os dois países assinaram um acordo histórico, separadamente com a Turquia e a ONU, em busca de aliviar a crise alimentar mundial.

As reações não demoraram a chegar.

Ao disparar mísseis no porto, o presidente russo, Vladimir Putin, ‘cuspiu na cara do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que fizeram enormes esforços para chegar a esse acordo‘, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Oleg Nikolenko.

O funcionário ucraniano também assegurou que a Rússia deve assumir ‘toda a responsabilidade‘ se o acordo falhar e ‘a crise alimentar mundial‘ se aprofundar.

Guterres condenou ‘inequivocamente‘ o ataque e enfatizou que ‘a implementação completa (do acordo) pela Federação Russa, Ucrânia e Turquia é imperativa‘.

Na mesma linha, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que o ataque ‘demonstra o total desrespeito da Rússia pelas leis e compromissos internacionais‘, enquanto a chanceler britânica, Liz Truss, o classificou como ‘completamente injustificado‘.

De acordo com o governador regional, Maksym Marchenko, os ataques deixaram ‘várias pessoas feridas‘, sem dar mais detalhes.

20 milhões de toneladas de trigo

O pacto assinado em Istambul é o primeiro grande acordo entre as partes em conflito desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro e busca ajudar a amenizar a fome que, segundo a ONU, afeta 47 milhões de pessoas a mais devido à guerra.

A Ucrânia se recusou a assinar diretamente o mesmo documento com a Rússia, então ambos os países assinaram acordos idênticos separados com a Turquia e a ONU, na presença de Guterres e Erdogan, no Palácio Dolmabahce de Istambul.

Antes de assinar, a Ucrânia alertou que daria ‘uma resposta militar imediata‘ se a Rússia violasse o pacto e atacasse seus navios ou invadisse seus portos.

Zelensky afirmou que a ONU deve garantir o cumprimento do acordo, que inclui o trânsito de navios com cereais ucranianos por corredores seguros para evitar minas no Mar Negro.

Até 20 milhões de toneladas de trigo e outros grãos estão bloqueados nos portos ucranianos, especialmente Odessa, por navios de guerra russos e minas colocadas por Kiev para evitar um ataque anfíbio.
Zelensky estima que os estoques de grãos da Ucrânia valem cerca de US$ 10 bilhões. (AFP)