O uso de inteligência artificial (IA) em serviços financeiros pode ampliar certas vulnerabilidades no setor com implicações para a sua estabilidade, aponta estudo do Financial Stability Board (FSB).

O potencial impacto do uso da IA em finanças se tornou mais relevante recentemente devido a vários fatores, como uma ampla adoção de poderosos e complexos métodos de inteligência artificial, novas características de grandes modelos de linguagem (LLMs, na sigla em inglês), maior importância de serviços especializados de hardware e aumento do uso de dados com fontes não transparentes.

As vulnerabilidades do setor financeiro ao uso da IA podem aumentar com a dependência de empresas do setor a poucos fornecedores de serviços numa área marcada por notável concentração e também com riscos à segurança cibernética, fraudes e desinformação gerada por inteligência artificial.

“A adoção de IA pode levar a mudanças de longo prazo em condições macroeconômicas, competição em mercados financeiros e uso de energia, com implicações para mercados financeiros e instituições”, aponta o FSB. “Estas vulnerabilidades, se não forem efetivamente monitoradas e mitigadas, podem interagir, e impactar, a estabilidade financeira.”

As autoridades regulatórias têm dois grandes desafios para enfrentar em relação a tais riscos: a velocidade do desenvolvimento da inteligência artificial e a precariedade de dados sobre o uso da IA no setor financeiro. “Estes desdobramentos não estão isolados mas reforçam tendências existentes na direção de maior automaticidade e velocidade no sistema financeiro.” Esta realidade enfatiza a necessidade de constante supervisão de autoridades no uso da IA neste segmento da economia, diz o FSB. “Arcabouços financeiros enfrentam muitas das vulnerabilidades associadas com a adoção da IA, mas trabalho adicional pode ser preciso para assegurar que eles serão suficientemente abrangentes.”

Conjuntos de regras e normas já requerem que instituições financeiras enfrentem riscos operacionais, cibernéticos e relacionados a modelos e fornecedores de serviços, mas o uso da inteligência artificial no setor podem gerar outras incertezas que poderão requerer reavaliações de políticas de governos.

“Por exemplo, algumas autoridades adotaram ou estão considerando implementar diretrizes específicas de IA para enfrentar questões além do escopo das regulações existentes”, diz o FSB.

Além disso, prossegue a entidade, instituições regulatórias podem considerar aumentar pesquisas sobre a adoção da IA por empresas do setor financeiro, com resultados em geral que poderiam ser divulgados ao público.

O FSB também recomenda que autoridades avaliem se os arcabouços regulatórios e de supervisão enfrentam as vulnerabilidades do setor financeiro que podem aumentar com o uso da inteligência artificial em termos domésticos e internacionais, inclusive para novas empresas, como fintechs, o que pode necessitar a colaboração de autoridades não financeiras responsáveis por dados e privacidade. “Em um separado, mas relacionado esforço, autoridades financeiras podem considerar alavancar o uso de instrumentos de IA para melhorar suas habilidades através do SupTech e RegTech.” (Estadão Conteúdo)