Economia ativa
Microfranquias são opção acessível de negócio
Apesar do porte, empresa deve ser vista não só como uma alternativa ao trabalho assalariado
As microfranquias (com valor de investimento de até R$ 135 mil) são uma opção mais acessível para quem quer começar um negócio e não tem muito dinheiro. Mas é importante tomar alguns cuidados para não se dar mal. É preciso ver a microfranquia como uma empresa normal, considerando os valores para o funcionamento dela e a própria remuneração do empreendedor.
Além disso, o franqueado deve analisar as vantagens que a franqueadora traz, para ver se isso justifica o investimento na marca em vez de empreender por conta própria.
O baixo valor de investimento pode levar o empreendedor a ver a microfranquia como uma alternativa ao trabalho assalariado, sem levar em conta a imprevisibilidade de tocar o próprio negócio -- e todas as necessidades que ele traz.
Esse contexto é relativamente importante, considerando que muitas microfranquias envolvem o trabalho de uma só pessoa, geralmente em serviços, muitas vezes sem a necessidade de operação física dedicada.
Para José Sarkis Arakelian, professor da Faap e consultor em estratégia de marketing, o empreendedor deve, primeiramente, ponderar o quão maior será a sua remuneração com a microfranquia para justificar uma possível demissão e consequente aposta no investimento.
“Às vezes, o raciocínio é de que se eu tenho um salário hoje em uma empresa de R$ 5 mil por mês, se eu conseguir R$ 5,5 mil ou R$ 6 mil com a microfranquia e não tiver chefe, é uma boa opção. E não é”, afirma Arakelian.
“Com trabalho fixo em uma empresa, independentemente do desempenho em cada mês, o seu salário vai estar lá. No caso do microfranqueado, não. Ele tem que ter um ‘colchão’. O risco dele é muito maior, então a remuneração também tem que ser”, completa o professor.
Ele alerta para a necessidade de o empreendedor visualizar a microfranquia como um negócio comum, no qual ele mesmo trabalha, e recomenda que o investidor mantenha contas bancárias separadas para fazer a gestão financeira da companhia em paralelo com as finanças pessoais.
Também é importante que o empreendedor não invista todo o seu capital para a abertura de uma microfranquia, com a promessa de lucros futuros.
O empreendedor deve saber qual o tempo necessário para repor os valores investidos na microfranquia e a quantia necessária para manter as operações da empresa. Essas informações devem ser obtidas com a franqueadora, mas também com outros franqueados da marca, que podem passar um cenário mais realista do dia a dia da franquia.
Arakelian elenca algumas perguntas importantes que o empreendedor deve se fazer antes de investir em uma microfranquia: Quanto ele precisa investir? Quanto tempo demora para o retorno do capital investido? Qual é o capital de giro (recursos, entre eles financeiro e de estoque, necessários para que a empresa funcione)? Qual é o ciclo do fluxo de caixa (todos os valores recebidos, gastos e previstos pela empresa)?
“O empreendedor deve checar e prestar muita atenção ao fluxo de caixa. Esse contexto é ainda mais importante ao se pensar em um perfil de investidor com uma restrição mais severa em termos de capital”, afirma o professor.
Investir em uma franquia tem algumas vantagens, como plano de negócio estruturado, apoio do franqueador e trabalhar com uma marca já conhecida. No caso de empresas mais famosas, isso é mais perceptível, com o investimento em branding e ações de publicidade, por exemplo.
No caso das microfranquias, esse diferencial muitas vezes não existe. Por causa disso, vale a reflexão por parte do empreendedor sobre a necessidade de se investir em uma franquia para exercer determinada função que poderia ser feita independentemente da ajuda do franqueador, como a venda de bijuterias ou seguros, por exemplo.
“Como a microfranquia me ajuda a criar valor? Às vezes, pode ter treinamento, pode ter acesso a uma tabela de preços especial, pode usar uma determinada marca que dê alguma facilidade no mercado. Mas essa pergunta precisa ser feita”, diz o professor.
Além disso, a marca tem que proporcionar ao empreendedor a possibilidade de expansão. “Quando você está no mercado de trabalho, sempre pode ter novas oportunidades. A partir do momento em que você deixa de ser um empregado e se torna um microfranqueado, se o seu negócio não tiver um resultado melhor, você fica estagnado”, afirma Arakelian. (Estadão Conteúdo)