Economia
Governo procura "as causas" do apagão
Falta de energia atingiu 25 Estados e o Distrito Federal e deu munição para críticas a Lula. Em alguns lugares blecaute durou 6 horas
Uma falha no sistema elétrico nacional provocou um apagão que atingiu 25 Estados e o Distrito Federal ontem (15). Segundo estimativa do próprio governo, afetou um terço dos consumidores brasileiros. O blecaute, que durou cerca de seis horas em algumas cidades, foi mais intenso no Norte e Nordeste. Apenas Roraima, que ainda não está conectado ao sistema, não registrou problemas.
As causas do apagão ainda não foram determinadas oficialmente, e a informação é de que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável pela coordenação e controle dos setores de geração e transmissão de energia no País, vai apresentar relatório em até 48 horas. No entanto, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que as investigações terão a participação da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
“A única motivação que nos leva a pedir que o Ministério da Justiça, através da Polícia Federal, também participe da apuração do ocorrido é a sensibilidade do setor elétrico nacional. Com esse setor, não podemos transigir na segurança. Não há da nossa parte apontamento leviano de responsabilidade”, disse ele. No começo do ano, a PF atuou na apuração de casos de sabotagem a torres de transmissão no Paraná e em Rondônia.
Silveira disse que o apagão não tem relação com suprimento energético ou com a segurança do sistema. Ele também negou problemas de planejamento. O ministro repetiu que eventos como o de ontem são “extremamente raros” e uma contingência planejada pelo ONS conseguiu “minimizar a carga das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste para que não houvesse a interrupção total”.
Eletrobras
Segundo o ministro, relatório mais recente do ONS aponta como único evento que poderia estar relacionado ao apagão o que ocorreu em linha de transmissão da Chesf no Ceará. A empresa é uma subsidiária da Eletrobras. Silveira não citou o nome da companhia para, segundo ele, não “terceirizar responsabilidades” -- embora tenha feito várias referências à Eletrobras em outros momentos.
“Não quero terceirizar a responsabilidade às empresas privadas. A responsabilidade é nossa, de dar respostas aos brasileiros e brasileiras”. Ao longo do dia, especialistas levantaram a possibilidade de o blecaute estar relacionado ao aumento de fontes de geração intermitente -- como solar fotovoltaica e eólica -- na matriz elétrica do País.
Serviços afetados
O apagão que interrompeu ontem o fornecimento de energia em todas as regiões do País causou transtornos ao transporte público em várias capitais ao longo da manhã, onde houve também problemas no trânsito em razão do desligamento de semáforos. Escolas suspenderam as aulas e unidades de saúde e hospitais tiveram de remarcar consultas. Estabelecimentos comerciais e residências também ficaram sem energia.
Em São Paulo, um dos serviços mais afetados foi o do metrô, que teve cinco linhas prejudicadas. A Linha 4-Amarela operou, entre 8h30 e 9h25, com velocidade reduzida e maior tempo de intervalo dos trens entre as estações, o que resultou em plataformas lotadas de passageiros à espera de transporte.
Repercussão
O apagão que atingiu a maior parte do País virou munição de políticos contra o governo Lula e também contra a privatização da Eletrobras.
O presidente do PP, Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro de Bolsonaro, usou a falta de energia para criticar o governo do PT, ainda que seu partido esteja negociando a adesão à base governista na Câmara.
“Apagão no Brasil! Aconteceu hoje, mas começar, começou em 1º de janeiro. O Brasil voltou! Voltou ao Apagão! A gasolina, lembra? Subiu hoje 0,41 para as distribuidoras. O apagão da BR! Governo do Apagão!”, escreveu Nogueira.
Clientes de 4 empresas da CPFL foram afetados
O grupo CPFL informou que a interrupção de fornecimento de energia elétrica que afetou diversas partes dos País impactou parte dos clientes de suas quatro distribuidoras: CPFL Paulista, Piratininga, Santa Cruz e RGE. Em Sorocaba, moradores de vários bairros da cidade ficaram quase uma hora sem energia.
A companhia declarou em nota, porém, que a situação foi normalizada em todas elas e que aguarda mais informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) referente a causa.
Segundo o ONS, a ocorrência afetou 16 mil megawatts (MW) de carga em estados do Norte e Nordeste do Brasil, afetando também estados do Sudeste.
A interrupção se deu às 08h31 e, às 9h16, cerca de 6 mil MW haviam sido retomados.
A RGE, porém, é responsável por cerca de 65% da energia elétrica consumida no Rio Grande do Sul, o que indica impacto do incidente também na região Sul. (Da Redação, com Estadão Conteúdo)