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Economia

Corridas aos bancos ficam mais rápidas na era digital

Redes sociais tiveram importante papel na disparada de saques do Silicon Valley

25 de Março de 2023 às 23:01
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Clientes sacaram US$ 40 bilhões, um quinto dos depósitos, em algumas horas
Clientes sacaram US$ 40 bilhões, um quinto dos depósitos, em algumas horas (Crédito: NOAH BERGER / ARQUIVO AFP (13/3/2023))

Uma corrida aos bancos suscita imagens do filme “A Felicidade Não Se Compra”, com clientes ansiosos espremidos lado a lado, implorando desesperadamente a um atormentado George Bailey para receber seu dinheiro. A falência do banco Silicon Valley Bank trouxe a sensação de pânico, mas quase nenhuma outra semelhança: em vez disso, ela atingiu lugares como o Twitter, fóruns de mensagens, telefones celulares e sites de bancos.

O que tornou essa falência distinta em comparação a outras do passado foi a velocidade do colapso. Na tarde do dia 8 de março, o banco de US$ 200 bilhões (R$ 1 trilhão) anunciou um plano para levantar capital novo; na sexta-feira, dia 10, de manhã ele estava insolvente e sob controle do governo.

Reguladores, formuladores de políticas e banqueiros estão analisando o papel que as trocas de mensagens digitais e as redes sociais podem ter desempenhado no colapso, e se estamos adentrando uma era em que o comportamento psicológico por trás de uma corrida aos bancos -- o medo disseminado de que os depositantes percam suas economias -- possa ser amplificado e viralizar mais rápido do que as autoridades bancárias e reguladores consigam responder.

“Foi uma disparada aos bancos, não uma corrida, e as redes sociais tiveram um papel central nisso”, diz Michael Imerman, professor da Escola de Negócios Paul Merage, na Universidade da Califórnia-Irvine.

A Corporação Federal Asseguradora de Depósitos (FDIC) estima que os clientes tenham sacado US$ 40 bilhões -- um quinto dos depósitos do Silicon Valley Bank -- em apenas algumas horas, levando o órgão a fechar o banco antes do meio-dia, em vez de aguardar o horário de fechamento, que é o procedimento operacional padrão para os reguladores quando um banco fica sem dinheiro.

Outras falências bancárias conhecidas, como os bancos IndyMac ou Washington Mutual em 2008, ou Continental Illinois nos anos 1980, só ocorreram depois de dias ou semanas de relatórios indicando que esses bancos enfrentavam profundas dificuldades financeiras. Então acontecia uma corrida e os reguladores intervinham.

A corrida ao Silicon Valley Bank foi, em muitos aspectos, a primeira da era digital. Poucos clientes fizeram fila em uma agência. Eles usaram aplicativos de banco e ligações telefônicas para acessar seu dinheiro em minutos.

Segundo capitalistas de risco e empresários, os estágios iniciais da corrida ao Silicon Valley Bank foram conduzidos por fóruns privados de mensagens ou canais de Slack, onde os empreendedores foram encorajados a sacar seus recursos. Também foi uma situação muito distinta por estar quase totalmente exposta a uma comunidade -- a indústria de tecnologia, capital de risco e startups.

Quando essa comunidade muito próxima de depositantes começou a conversar entre si, usando os canais digitais para fazê-lo rapidamente, o banco se tornou mais vulnerável aos rumores e a uma corrida. Esse era um risco fora do crescimento das redes sociais, segundo especialistas do setor.

Sam Altman, presidente da empresa Open AI, tuitou: “A velocidade do mundo mudou. as coisas podem se desenrolar rapidamente. As pessoas falam rápido. As pessoas movimentam dinheiro rapidamente.”

Embora os saques possam ter sido organizados num primeiro momento, eles se tornaram uma plena corrida aos bancos na noite de quinta-feira, dia 9, depois de se espalharem pelo Twitter as notícias de que o bilionário capitalista de risco Peter Thiel teria aconselhado as empresas em que investe a fecharem suas contas no Silicon Valley Bank. (Estadão Conteúdo e agências internacionais)