Economia
Instagram tem perfis clonados que aplicam ’golpe dos nudes’
Nas últimas semanas, o Instagram foi tomado por uma onda de perfis clonados com fins maliciosos
‘Bem-vindo à minha página privada‘, publicou na segunda-feira passada, o suposto perfil no Instagram de Évelin Nogueira, 25, moradora de São Carlos, São Paulo. Ela cursa Odontologia no interior do Estado. ‘Inscreva-se agora e aproveite meus 30 dias de acesso gratuito e assista a todas as minhas cenas sem censura.‘ Nada disso é verdade, mas, na mensagem e no perfil, é uma foto pessoal da estudante que aparece.
Nas últimas semanas, o Instagram foi tomado por uma onda de perfis clonados com fins maliciosos, perturbando a paz dos usuários que usam a rede social da Meta (empresa-mãe também de Facebook e WhatsApp). No golpe, criminosos roubam fotos de vítimas aleatórias, criam perfis aparentemente idênticos (com nome de usuário e descrição muito similares) e tentam vender conteúdo adulto se passando por essas pessoas.
A verdadeira Évelin foi avisada do perfil falso por amigos, que entenderam se tratar de um golpe. Mas a estudante não conseguia abrir o perfil, já que foi bloqueada pelo criminoso e, por isso, estava impossibilitada de visualizar a conta falsa.
Depois de fazer um apelo em sua própria conta para que denunciassem o esquema ao Instagram como falsidade ideológica, o perfil clonado foi retirado da rede. ‘Ficou só um dia no ar, mas muita coisa pode acontecer nesse período‘, diz.
Caso similar aconteceu com Júlia Scochi, 28, moradora da capital paulista e criadora de conteúdo focado em games. No Twitter, em 7 de fevereiro, ela publicou: ‘Gente, fizeram um ’fake’ (perfil falso) meu no Instagram, e (a pessoa) está divulgando link malicioso. Podem me ajudar a denunciar por favor?‘. Horas depois, a página saiu do ar.
‘Percebi que estavam clonando diversos outros perfis e supostamente vendendo conteúdo adulto dessas pessoas. Muitas pessoas relataram o problema‘, afirma Júlia.
O golpe mira dois alvos. O primeiro - e mais óbvio - são os donos dos perfis clonados. ‘O risco aqui é da reputação da pessoa, já que os atacantes estão se personificando de uma pessoa real para enganar outras vítimas‘, aponta Luis Corrons, especialista de segurança da Avast.
É o caso de Évelin. ‘Eles podem acabar com a minha imagem ao publicar essas coisas‘, conta. Em uma das publicações feitas pelo perfil falso atribuído à estudante de Odontologia, os criminosos publicaram fotos de um vibrador, com o texto: ‘Quer me ver brincar com ele? Assine agora e tenha acesso grátis‘.
Évelin, é claro, ficou assustada. ‘Fiquei imaginando o que pensariam as pessoas da igreja da minha mãe, por exemplo‘, diz.
O segundo tipo de vítima é aquele que clica no link malicioso, fornece informações pessoais e até faz transferências financeiras para os supostos donos do perfil. As contas clonadas direcionam essas vítimas para uma página falsa, onde dados podem ser roubados e o crime, enfim, realizado.
Vítimas ficam de mãos atadas
As vítimas têm muito pouco a fazer, caso descubram que tiveram seus perfis clonados, dizem os especialistas.
Eles, além do próprio Instagram, recomendam um único caminho: denunciar a conta junto à plataforma, reportando falsidade ideológica. Eles também reforçam que é importante que amigos e parentes se juntem às denúncias, aumentando o coro para o processo de revisão da plataforma ser acelerado.
Em alguns casos, como de Évelin e Júlia, as contas saem do ar rapidamente. Mas nem sempre isso funciona.
O cozinheiro Iago Schmidt, 29, teve a conta no Instagram clonada também em 7 de fevereiro e, tão logo foi avisado por uma amiga, fez a denúncia pelo aplicativo. Mas o perfil falso continuou no ar por dez dias.
‘Devido ao alto número de denúncias que recebemos, nosso time não foi capaz de revisar a sua denúncia‘, afirmou o Instagram a Schmidt em 10 de fevereiro.
Segundo especialistas, comunicar um boletim de ocorrência (B.O.) é uma saída, mas pode não ter efeito na velocidade necessária. ‘Esse método é possível, mas depende de ter dano comprovado‘, explica Emilio Simoni, chefe de segurança da Psafe.
O que diz o Instagram
À reportagem, a Meta afirma que a prática não é permitida no Instagram e que a empresa busca aprimorar ‘a tecnologia para combater atividades suspeitas‘.
O Instagram também lembra que há um formato mais burocrático para fazer uma denúncia: ir a um formulário, por onde a vítima deve enviar documentos pessoais comprovando a própria identidade. O método não permite que terceiros façam a denúncia. (Estadão Conteúdo)