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Economia

CEOs negros trabalham o dobro para conseguir chegar ao topo

27 de Novembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Um profissional negro tem de trabalhar o dobro para chegar ao topo, segundo a pesquisa da Korn Ferry
Um profissional negro tem de trabalhar o dobro para chegar ao topo, segundo a pesquisa da Korn Ferry (Crédito: Freepik)

Um profissional negro tem de trabalhar o dobro para chegar ao topo. É o que aponta pesquisa da Korn Ferry, consultoria de gestão de pessoas. Mesmo com as políticas de diversidade em alta nas organizações, o alto escalão parece se manter quase intocável. Apenas 4 dos 500 CEOs listados na revista Fortune são negros, representando menos de 1% do total.

De acordo com Milene Schiavo, diretora de Diversidade, Equidade e Inclusão da Korn Ferry, o dado é ainda mais alarmante quando comparado ao de 10 anos atrás, quando o número de lideranças negras nas empresas listadas, apesar de baixa, era de 7 executivos.

A queda, segundo ela, é resultado da falta de ações mais afirmativas, com metas e objetivos claramente estabelecidos. “Hoje, existe um foco muito forte na questão do progresso feminino, mas não há, de fato, o estabelecimento de indicadores de metas quando o assunto é a inclusão de pessoas negras nesses cargos mais altos, por exemplo”, ressalta Milene.

No Brasil, segundo a B3, 79% das empresas listadas afirmaram ter de 0 a 11% de líderes negros, enquanto 78% têm de 0 a 11% em cargos C-level. Não há nenhum CEO negro entre as 423 companhias da Bolsa. Da mesma forma, o salário dos profissionais negros chega a ser 43% menor do que o dos brancos, segundo o IBGE.

O estudo global “The Black P&L Leader”, realizado pela Korn Ferry, ouviu 28 executivos sêniores de P&L (demonstrativo de lucros e perdas) -- função que, segundo os estudos, melhor prepara um líder para a função de CEO. Segundo o levantamento, 60% dos líderes negros relataram ter de trabalhar duas vezes mais e alcançar o dobro dos resultados em relação aos colegas brancos para ter o mesmo reconhecimento.

Para efeitos de comparação, os líderes negros tiveram a maior pontuação em competências essenciais para o alto desempenho de executivos em relação aos demais líderes da base de dados.

De acordo com Yone Gonzaga, professora convidada da Fundação Dom Cabral, a ausência de pessoas negras em determinados postos de trabalho é resultado de uma série de condicionantes históricas que foram pensadas para que os negros estivessem na base e os brancos, no topo.

Monalisa Gomes, CEO da Fronius entre 2016 e 2020 e que é negra, concorda. Segundo ela, enquanto as pessoas acharem que isso é uma questão de meritocracia, a discussão não vai avançar. Durante os anos em que esteve à frente da companhia no Brasil, sempre que participava de eventos ou encontros com os demais líderes na empresa, a executiva era recebida com surpresa pelos colegas.

“Quando eu estava acompanhada de uma das gerentes, era natural que as pessoas achassem que ela era eu. Porque ela era uma mulher loira e alta, e eu não me enquadrava nesse padrão de CEO de uma multinacional”, conta Monalisa. (Estadão Conteúdo)