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Economia

BC: contas externas têm saldo negativo de US$ 5,7 bilhões em setembro

Investimentos diretos no país somaram US$ 9,2 bilhões

24 de Outubro de 2022 às 13:53
Cruzeiro do Sul [email protected]
 A estimativa para o câmbio neste ano continuou em R$ 5,25
BC: contas externas têm saldo negativo de US$ 5,7 bilhões em setembro (Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil)

As contas externas tiveram saldo negativo de US$ 5,678 bilhões em setembro, informou hoje (24) o Banco Central (BC). É o maior valor da série para setembro, desde 2014, quando o déficit foi de US$ 8 bilhões nas transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda com outros países. No mesmo mês de 2021, o déficit havia sido de US$ 1,921 bilhão.

De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, desde abril os resultados mensais das transações correntes vêm sendo maiores do que dos mesmos meses de 2021. Isso aponta que os resultados já se mostram comparáveis com os demais períodos da economia, superando os períodos de crise causados pela pandemia da Covid-19.

"Isso decorre de dois fatores, o primeiro é a plena reabertura da economia. Em abril de 2021 estávamos saindo daquela segunda onda da pandemia, da Ômicron, ainda tínhamos muitas restrições. Agora em 2022 já temos uma integral reabertura da economia. O outro ponto é o crescimento acima do esperado que tem acontecido esse ano, às previsões que tem sido revisadas para cima”, disse Rocha.

A diferença na comparação interanual se deve ao superávit da balança comercial, que reduziu US$ 196 milhões, enquanto os déficits em serviços e renda primária (lucros e dividendos) aumentaram US$ 536 milhões e US$ 3,1 bilhões, respectivamente. Rocha destaca o crescimento no déficit de lucros e dividendos, resultado do aumento dos investimentos diretos no país e da maior lucratividade das empresas. “É um resultado esperado com a melhora da economia”, explicou.

Em 12 meses, encerrados em setembro, o déficit em transações correntes é de US$ 46,153 bilhões, 2,56% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país), ante o saldo negativo de US$ 42,397 bilhões (2,38% do PIB) em agosto de 2022 e déficit de US$ 23,428 bilhões (1,49% do PIB) no período equivalente terminado em setembro de 2021.

Já no acumulado do ano, o déficit é de US$ 29,583 bilhões, contra saldo negativo de US$ 11,356 bilhões de janeiro a setembro de 2021.

Balança comercial e serviços

As exportações de bens totalizaram US$ 30,608 bilhões em setembro, aumento de 24,5% em relação a igual mês de 2021. As importações somaram US$ 28,252 bilhões, incremento de 28,2% na comparação com setembro do ano passado. Com esses resultados, a balança comercial fechou com superávit de US$ 2,356 bilhões no mês passado, ante saldo positivo de US$ 2,551 bilhões em setembro de 2021.

O déficit na conta de serviços (viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, entre outros) somou US$ 1,887 bilhão em setembro, aumento de 39,6% ante os US$ 1,352 bilhão em igual mês de 2021.

Em linha com a expansão do volume de comércio exterior, as despesas líquidas de transporte tiveram aumento expressivo de 101,1%, na comparação interanual, passando de US$ 372 milhões em setembro de 2021 para US$ 748 milhões em setembro deste ano.

No caso das viagens internacionais, seguindo a tendência dos meses recentes, as receitas de estrangeiros em viagem ao Brasil cresceram na comparação interanual e chegaram a US$ 416 milhões em setembro, contra US$ 236 milhões no mesmo mês de 2021. As despesas de brasileiros no exterior passaram de US$ 474 milhões em setembro do ano passado para em US$ 907 milhões no mesmo mês de 2022.

Com isso, a conta de viagens fechou o mês com aumento de 106,9% no déficit, chegando a US$ 491 milhões, ante déficit de US$ 237 milhões em setembro de 2021, contribuindo para elevar o saldo negativo em serviços. De acordo com Rocha, diferente do resultado geral das transações correntes, a conta de viagens ainda não pode ser comparada com períodos pré-pandemia e a recuperação é muito mais gradual.

No acumulado do ano, o déficit na conta quadriplicou, passando de US$ 1,326 bilhão de janeiro a setembro de 2021 para US$ 5,363 bilhões de janeiro a setembro deste ano. "Mas se olharmos os últimos 12 meses até setembro de 2022, as despesas líquidas com viagens somaram US$ 6,3 bilhões, enquanto os últimos 12 meses até setembro de 2019, antes da pandemia, o déficit era de US$ 11,8 bilhões”, destacou Rocha.

Rendas

Em setembro de 2022, o déficit em renda primária (lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários) chegou a US$ 6,534 bilhões, 92,7% superior aos US$ 3,391 bilhões no mesmo mês de 2021.

Normalmente, essa conta é deficitária, já que há mais investimentos de estrangeiros no Brasil, que remetem os lucros para fora do país, do que de brasileiros no exterior. E, mais uma vez, Rocha destacou que qualquer dos valores da conta já são os maiores da série histórica. “Aqui não estamos mais tratando de comparar com período pandêmico”, disse.

No caso dos lucros e dividendos associadas aos investimentos direto e em carteira, houve déficit de US$ 5,326 bilhões no mês de setembro deste ano, frente ao observado em setembro de 2021, de US$ 2,508 bilhões, com destaque para as despesas brutas de lucros de investimento em carteira, que aumentou de US$ 724 milhões em setembro de 2021 para US$ 3,020 bilhões em setembro de 2022.

"A explicação é o próprio crescimento do estoque do investimento direto, na faixa de US$ 73 bilhões nos últimos 12 meses, que vai sendo remunerado. O crescimento de estoque, mesmo com taxa de lucratividade contante, contribui para o aumento na conta; se a lucratividade crescer ela magnifica esse processo”, explicou.

Já as despesas líquidas com juros passaram de US$ 899 milhões para US$ 1,225 bilhão. O aumento nos juros concentrou-se em operações de empresas de mesmo grupo econômico, segundo o BC.

A conta de renda secundária (gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços ou bens) teve resultado positivo de US$ 388 milhões, contra US$ 270 milhões em setembro de 2021.

Investimentos

Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 9,185 bilhões no mês passado, ante US$ 4,600 bilhões em setembro de 2021. É o maior ingresso líquido para setembro desde 2017, quando foi de US$ 9,3 bilhões.

No mês passado, houve ingressos líquidos em participação no capital de US$ 3,448 bilhões, como com compra de novas empresas e reinvestimentos de lucros. Enquanto isso, as operações intercompanhia (como os empréstimos da matriz no exterior para a filial no Brasil) tiveram superávit de US$ 5,737 bilhões.

Nos 12 meses encerrados em setembro de 2022, o IDP totalizou US$ 73,811 bilhões, correspondendo a 4,1% do PIB, em comparação a US$ 69,226 bilhões (3,88% do PIB) no mês anterior e US$ 49,866 bilhões (3,17% do PIB) em setembro de 2021.

Quando o país registra saldo negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo e costumam ser investimentos de longo prazo. Para o mês de outubro de 2022, a estimativa do Banco Central para o IDP é de ingressos líquidos de US$ 3,943 bilhões.

Os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram saídas líquidas de US$ 2,638 bilhões em setembro de 2022, compostos por saídas de US$ 3,860 bilhões em ações e fundos de investimento e entradas de US$ 1,222 bilhão em títulos de dívida.

O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 327,580 bilhões em setembro de 2022, aumento de US$ 12,084 bilhões em comparação ao mês anterior. O resultado decorreu, principalmente, das variações por preços e paridades, que contribuíram para reduzir o estoque em US$ 6,452 bilhões e US$ 2,457 bilhões, respectivamente, compensada parcialmente pela contribuição positiva da receita de juros, de US$ 563 milhões. (Agência Brasil)