Economia
BC leva elava Selic a 13,25% e taxa tem maior patamar desde 2017
Foi o 11º aumento consecutivo da taxa básica. Federal Reserve, dos Estados Unidos, também subiu juros
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou ontem nova alta de 0,50 ponto porcentual para a Selic, que passou de 12,75% para 13,25% ao ano. Foi o 11º aumento consecutivo da taxa básica de juros, que alcança agora o maior patamar desde janeiro de 2017 (13,75%).
No comunicado divulgado após a reunião, os integrantes do colegiado sinalizaram uma nova elevação na reunião programada para agosto, de magnitude igual ou menor (o que indica entre 0,25% e 0,5 ponto).
Segundo o Copom, a decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação “para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”, hoje focado em 2023. A inovação é a palavra “ao redor”, que não constava no comunicado anterior. Para alguns economistas, isso pode indicar que o BC começa a abrir mão do centro da meta da inflação (3,25%) também do ano que vem -- ampliando o horizonte de convergência da inflação apenas em 2024.
O Copom ainda não incluiu em seu cenário os impactos do pacote de redução de tributos proposto pelo governo para reduzir os preços de combustíveis, além de energia elétrica e telecomunicações. “Avaliou-se que as medidas tributárias em tramitação reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária”, diz o comunicado.
“O Copom mencionou que, se as medidas debatidas agora no Congresso (para desonerar combustíveis) passarem do jeito que estão, provavelmente vão tirar inflação de 2022 e jogar para 2023. Se ele (o BC), sem isso, já está com a inflação acima do centro da meta no ano que vem, que é o horizonte relevante, dificilmente vai conseguir justificar chegar à próxima reunião e dar um aumento de apenas 0,25 ponto”, afirmou o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José Pena. “No fundo, o Copom está dizendo que a política fiscal está indo na contramão da política monetária.”
Já a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, destacou a ênfase do BC nos riscos fiscais e com “políticas fiscais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporadas nas expectativas de inflação”, segundo o comunicado. Para ela, mais do que o aumento dos riscos fiscais com medidas como o pacote para reduzir preço dos combustíveis -- com redução tributária e compensação aos Estados --, que considera limitados a este ano, o BC passa um recado para parte da área econômica do governo: “Se não vai ajudar, ao menos não atrapalha”.
Estados Unidos
A decisão do Copom foi tomada horas depois de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), também preocupado com as pressões sobre os preços, subir em 0,75% ponto porcentual a taxa básica de juros, para o intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano -- a mais elevada desde março de 2020.
Na economia americana ou no Brasil, um aumento dos juros encarece o crédito e o custo da dívida pública. Com financiamento mais caro, empresas podem também passar a investir menos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda.
Além disso, juros mais altos nos EUA elevam a atratividade de se investir em títulos de renda fixa americanos, o que tende a aumentar o ingresso de recursos na maior economia do mundo e, consequentemente, valorizar o dólar frente a outras moedas.
B3 fecha o dia subindo 0,73%
O comentário do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, sobre a possibilidade de elevar os juros em ritmo mais brando na reunião de julho (depois do anúncio de ontem, de alta de 0,75 ponto) deu força às Bolsas no exterior e no Brasil, já que o mercado temia a sinalização de aperto ainda maior à frente.
O índice Dow Jones fechou com ganhos de 1% e o S&P 500 avançou 1,46%. No Brasil, o Ibovespa, principal indicador da B3, fechou em alta de 0,73%, a 102,8 mil pontos, depois de oito pregões seguidos de perdas. Já o dólar caiu 2,11%, para R$ 5,02, interrompendo uma sequência de sete pregões de alta em que havia acumulado valorização de 7,44%.
“A temida ‘superquarta’ vinha sendo a vilã da semana até que veio o Dia D. O Fed mostra preocupação com a inflação, mas sem prejudicar a economia e deixar de alcançar o máximo emprego”, disse Eduardo Telles, especialista em renda variável da Blue3.
Entidades criticam juros maiores
O aumento da taxa Selic para 13,25% ao ano foi recebido com críticas pelo setor produtivo. Para entidades da indústria, a decisão é equivocada e prejudicará a recuperação da economia.
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que a taxa Selic está num nível que inibe a atividade econômica. Para a entidade, os aumentos realizados neste ano se refletem em uma taxa real (juros menos a inflação) elevada, num momento em que a inflação começa a desacelerar. “Este aumento adicional da taxa de juros no momento é desnecessário para o controle da inflação e trará custos adicionais à economia, como queda do consumo, da produção e do emprego”, afirmou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) considera que a Selic não pode ser o único instrumento para contornar o quadro generalizado de aumento de preços que assola a economia brasileira. (Estadão Conteúdo e Agência Brasil)