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Economia

Nômades digitais enfrentam desafios

Pandemia impulsionou home office, que oferece flexibilidade e facilidade para mudança de cidade ou país

27 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Oportunidade de trabalho exige disciplina, planejamento e adequação a imprevistos.
Oportunidade de trabalho exige disciplina, planejamento e adequação a imprevistos. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

O nomadismo digital ganhou força com a pandemia da Covid-19, impulsionado pelo home office, e vem conquistando brasileiros ao pôr fim às limitações geográficas e permitir viajar, inclusive pelo mundo, enquanto se trabalha. O que para muitos pode ser o modelo de vida ideal, com oportunidades de emprego, flexibilidade de horários e novas experiências, para além da visão romantizada ele exige planejamento, disciplina e autoconhecimento para lidar com os imprevistos do dia a dia, que não raro surpreendem até viajantes mais maduros.

Pesquisa do LinkedIn registrou um aumento de 83% em anúncios de vagas mencionando flexibilidade desde 2019, além de um crescimento de 343% nas referências ao termo em publicações na rede. Conforme a 10ª edição do estudo “Tendências Globais de Talentos 2022: A reinvenção da Cultura Corporativa”, publicado em fevereiro, os funcionários querem flexibilidade para trabalhar onde, quando e como preferirem, e estão mais do que dispostos a deixarem as empresas que não proporcionarem isso.

Outro mapeamento da Revelo, startup de recrutamento e seleção que conta com 1,5 milhão de candidatos cadastrados em sua base, mostra que praticamente não existem mais buscas por vagas presenciais. Em um dos estudos recentes, 78% dos profissionais disseram considerar trocar de emprego caso não haja flexibilidade em permanecer trabalhando de casa.

“A maioria dos candidatos está procurando trabalho remoto. Algumas das razões apontadas por eles são: não perder tempo no trânsito, poder trabalhar em cidades distantes, incômodo com as interrupções que acontecem no escritório e horários muito inflexíveis do modelo presencial”, diz Lucas Mendes, cofundador da Revelo.

Se antes eram pessoas que não tinham raízes no trabalho, agora o grupo é diverso, formado por profissionais de diferentes cargos, setores e níveis, que trabalham de forma remota enquanto viajam em busca de uma melhor qualidade de vida e novas experiências, mas que também estão passíveis de sofrer perrengues, como todo profissional.

A paulistana Camila Bertelli Macedo, de 33 anos, sempre atuou em regime de carteira assinada em escritório presencial e, há quatro meses, decidiu se tornar nômade digital. “Já passei por 12 cidades. Hoje, estou em Luxemburgo, depois vou para Itália e, em seguida, Inglaterra, para fazer um curso em Oxford”, conta ela, que é gerente de recursos humanos da Nexa Resources.

Embora esteja satisfeita com a escolha, Camila conta que, no começo, precisou adaptar sua rotina à nova realidade, seja em relação ao fuso horário para se comunicar com a empresa ou para realizar as tarefas pessoais. “Foi bem desafiador. Dormia menos e ficava ansiosa ao reagendar compromissos. Achava que precisava estar 100% disponível e trabalhar por muitas horas. Precisei rever todas as agendas, fazer acordos e dar mais autonomia ao meu time. Cheguei a perder uma reunião porque dormi”, lembra.

Outro desafio foi se desapegar do sentimento de pertencimento, por estar distante do local físico da empresa, amigos e familiares. “Perdi encontros. Lidar com o medo de que você está perdendo ou acha que vai perder a relação com as pessoas é superdifícil”, destaca. Fora as questões relacionadas à vivência em outro país. (Estadão Conteúdo)