Economia
Guedes: faltou apoio para implementar agenda liberal
Ao completar três anos no cargo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tornou-se uma voz mais solitária do que nunca na defesa das bandeiras liberais no governo. Movido por uma resiliência surpreendente e pelo que define como “senso de compromisso e de responsabilidade” com 200 milhões de brasileiros, ele procura levar adiante a sua agenda de reformas e de modernização do Estado, apesar das seguidas rasteiras que leva do presidente Jair Bolsonaro e da oposição escancarada de colegas da Esplanada dos Ministérios e parlamentares ligados à base governista no Congresso.
O ministro reafirmou, em entrevista, sua disposição de seguir em frente e exaltou a “relação de respeito” que mantém com Bolsonaro. Guedes diz que há falta de apoio para implementar a sua agenda liberal. “Não tive o apoio que tinha de ter. Eu realmente esperava mais apoio para essa agenda”, afirmou. Sobre as reformas, disse que não se seguiram como esperava. “É evidente que as reformas ambiciosas que nós defendemos não estão andando na velocidade em que gostaríamos. Naturalmente, há uma frustração nossa com o ritmo das reformas”, disse o ministro.
Guedes também admitiu que muitas das medidas que anunciou, no fim acabaram não saindo. Muitos analistas passaram a chamá-lo de “ministro da semana que vem” e coisas do gênero. Sobre isso, ele diz que deveria ser mais comedido. “Eu cometi um erro. Sabem qual foi? Dividi com vocês (jornalistas) essas metas todas que eu tinha e a oposição a essas mudanças importantes, dentro e fora do governo, rapidamente descredenciava os projetos mais ambiciosos. Os oposicionistas, que sempre foram contra as reformas, ganhavam uma força adicional de gente de dentro do governo.”
O ministro da Economia disse que as questões políticas também prejudicaram propostas iniciais. “Nós entramos com uma plataforma que é o resultado de uma aliança de conservadores e liberais, que funcionou politicamente para a eleição, mas a engrenagem não girou. Essa aliança não conseguiu nem implementar as propostas dos conservadores, porque os liberais têm valores um pouco diferentes, nem as reformas liberais, porque às vezes têm fogo amigo dos conservadores. O establishment é muito forte.”
Como exemplo de divergências no governo que prejudicam a agenda liberal, Guedes cita o plano de privatização dos Correios. “Já foi aprovada pela Câmara, mas parou no Senado, que precisa dar esse passo”, argumentou. (Estadão Conteúdo e Redação)