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Economia

Tecnologia identifica riscos para saúde mental no trabalho

Ferramentas digitais avaliam nível de estresse e condições psicológicas dos profissionais

29 de Agosto de 2021 às 00:01
Estadão Conteúdo [email protected]
Ambiente corporativo apresenta riscos psicossociais que são pouco comunicados.
Ambiente corporativo apresenta riscos psicossociais que são pouco comunicados. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Se falar de saúde mental na sociedade ainda é um tabu, no ambiente de trabalho é um assunto que pode estar atrelado ao medo. Embora as empresas estejam mais atentas ao assunto, os funcionários ainda têm receio de comunicar problemas às lideranças com medo de mostrar vulnerabilidade.

“A saúde mental tem chamado a atenção das empresas na pandemia por estar alinhada com objetivos globais. Hoje, tem se falado em sustentabilidade dos negócios atrelada a questões ambientais, mas sustentabilidade também está relacionada à saúde emocional dos colaboradores, que vão garantir o sucesso do negócio”, diz a psicóloga Ana Carolina Peuker.

Apesar disso, ela afirma que os riscos psicossociais do trabalho ainda não são muito difundidos. Esses fatores são definidos pela probabilidade de o trabalhador sofrer danos psicológicos, associados ou não a prejuízos físicos, devido à exposição a uma situação de trabalho que represente risco. Pode ser desde a segurança (alguém que exerce atividades perigosas), passando pela saúde, condições do emprego e relações entre colegas.

Se de um lado há líderes e empresas ainda aprendendo a lidar com a saúde mental e, do outro, funcionários que evitam expressar o que sentem, a tecnologia pode ajudar. A startup Bee Touch, fundada por Peuker e pelo cientista da computação Felipe Scuciatto, desenvolve soluções tecnológicas que auxiliam empresas e profissionais a cuidarem do bem-estar.

“A grande vantagem que a tecnologia traz é atuar de maneira preditiva, antecipar potenciais riscos de adoecimento mental e permitir o diagnóstico da raiz dos problemas”, ela diz. Uma das inovações da empresa é a plataforma Avax Psi, que realiza avaliações psicológicas a partir da ciência de dados para identificar riscos psicossociais no trabalho.

A psicóloga destaca que o recurso difere das demais inteligências artificiais que identificam sintomas, o que ela considera uma abordagem reativa, de atuar nos casos já adoecidos. O produto foi desenvolvido para empresas e pode ser customizado de acordo com a realidade e a necessidade de cada local, uma vez que alguns riscos e estresses são inerentes a determinadas profissões. Além de indicadores de saúde e segurança ocupacional, a ferramenta aborda questões individuais, história pregressa e atual.

“A gente avalia doença mental, histórico familiar, desempenho cognitivo, como a pessoa está do ponto de vista de atenção”, explica Peuker.

Todas as questões são avaliadas por meio de um formulário respondido anonimamente pelos funcionários da empresa. Uma tabela reúne os resultados em gráficos para que o gestor tenha uma visão analítica do cenário. A startup também envia um relatório técnico com a análise dos pontos críticos e um plano de ação para cada um deles.

Estressômetro

Outra ferramenta desenvolvida pela Bee Touch, acessível de forma gratuita pela internet, é o Estressômetro, que avalia o nível de estresse com base em estudos científicos (https://www.estressometro.com.br/). Como as doenças da mente ainda são alvo de estigma social, a ideia foi criar um recurso mais lúdico, necessário para favorecer a adesão.

Horas extras de trabalho, reuniões consecutivas e tempo subaproveitado em atividades podem ser avaliados, a princípio, para fins de gestão laboral. Entender rotinas e monitorá-las ajuda gestores a evitar riscos trabalhistas, por exemplo. Foi para isso que a Fhinck desenvolveu uma inteligência artificial que, instalada no computador, traduz tempos e movimentos em dados.

Com ela, é possível saber se o funcionário trabalhou a mais, fez pausa de almoço ou se está perdendo tempo em tarefas. Na pandemia, a empresa identificou, na base de 17 clientes, um aumento de 12% na jornada média de trabalho, além de risco de 27% no aumento de casos de burnout em cargos sênior e de liderança. Também cresceu 17% a mistura de rotinas entre trabalho e atividades pessoais. Por outro lado, foi percebido incremento de foco em 22% no home office. (Estadão Conteúdo)