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Economia

Guedes pede moderação ao Supremo e a Bolsonaro

"Não acredito na barulheira de que vai haver golpe", disse ministro

15 de Julho de 2021 às 00:01
Estadão Conteúdo [email protected]
Paulo Guedes participou ontem de videoconferência.
Paulo Guedes participou ontem de videoconferência. (Crédito: REPRODUÇÃO)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu ontem mais moderação na relação entre os Poderes da República, inclusive ao presidente Jair Bolsonaro. Ele repetiu críticas a membros do Supremo Tribunal Federal (STF), sem atacar diretamente a instituição. “A mensagem é saúde, emprego e renda -- e moderação. Eu também estou tentando ficar mais moderado, acho que a mídia tem que dar uma moderada, o Supremo, o presidente (Bolsonaro). Está todo mundo muito nervoso, muito ansioso, radicalizando de um lado e de outro”, afirmou o ministro, em videoconferência realizada pelo jornal Valor Econômico. “O Fla-Flu (eleição) é no ano que vem, não é agora”, completou.

O ministro disse não acreditar em qualquer narrativa que envolva a possibilidade de um golpe na democracia brasileira. “Não acredito na barulheira de que vai haver golpe, não é minha hipótese de trabalho. Volta e meia alguém sai da caixa e faz um barulho infernal, mas a democracia bota pessoa na caixa de novo”, avaliou.

Em tom conciliador, Guedes assumiu erros próprios de avaliação e disse todos os atores de qualquer poder também podem se equivocar. “Às vezes no Executivo tem gente que sai da caixinha e fala o que não devia falar. Tem gente no Supremo que sai da caixinha também, faz besteira. O STF às vezes funciona como corte criminal e comete excessos, mas esses excessos podem ser cometidos por atores, não pela instituição. Todos somos humanos e erramos, eu mesmo errei na dosimetria da reforma tributária”, acrescentou.

Guedes reclamou, no entanto, do que chamou de “negacionismo” na economia, em referência a projeções pessimistas do mercado sobre a crise da pandemia de Covid-19 que não se concretizaram. “Há um negacionismo fabuloso na economia, mas todos os setores estão voltando. Acusam governo de negacionismo na saúde, mas nunca vi tanto negacionismo na economia”, rebateu.

O ministro projetou que assim como a atividade caiu menos e se recuperou mais rápido do que muitas estimativas de mercado, a dívida bruta deve chegar ao fim de 2021 em 83% ou 82% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto muitos projetavam um endividamento de 100% do PIB.

Eletrobras

Paulo Guedes também disse que a privatização da Eletrobras deve acontecer até o primeiro trimestre do ano que vem. “Eu adoraria que fosse até o fim deste ano, mas os cálculos são de que pode ser no primeiro trimestre do ano que vem”, afirmou o ministro durante live do Valor.

O ministro descartou a possibilidade de as eleições do ano que vem adiarem a transferência da estatal ao setor privado. “Não tem mais esse negocio de eleição. O governo vai fazer reforma o tempo inteiro. Todo mundo já entendeu que a Eletrobras vai ser privatizada”, afirmou. 

Retomada compensará perdas, afirma ministro

O buraco de R$ 30 bilhões aberto pela proposta de reforma do Imposto de Renda não preocupa o governo federal, em razão da recuperação da atividade, disse ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo ele, a arrecadação do primeiro semestre ultrapassou em R$ 100 bilhões o esperado. ‘Se errarmos por R$ 30 bilhões, já está pago antes de começar a reforma”, afirmou.

O Estadão mostrou, no entanto, que o buraco previsto com as mudanças propostas pelo relator do texto na Câmara, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), em acordo com a equipe econômica, preocupam a ala “fiscalista” do ministério, pelos seguidos rombos nas contas públicas desde 2014 e pelo patamar elevado da dívida pública, próximo de 100% do PIB.

Guedes admitiu que a primeira proposta do governo de reforma do Imposto de Renda, entregue pessoalmente por ele ao Congresso no fim do mês passado, tinha erros na calibragem das alíquotas. “Eu errei na dosimetria da reforma tributária. O importante é reconhecer o erro, recuar e corrigir o mais rápido possível”, afirmou.

O ministro disse que o governo consegue reduzir com segurança o imposto cobrado das empresas em 10 pontos porcentuais, de 15% para 5% na alíquota básica. Caso os cortes previstos dos subsídios funcionem, e com a economia voltando a crescer, Guedes sustentou que será possível promover um segundo corte, de 2,5 pontos porcentuais, levando a alíquota para 2,5%, conforme a nova versão da reforma apresentada por Sabino. (Estadão Conteúdo)