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Economia

Agro e indústria puxam alta do PIB

Resultado também foi favorecido pelo movimento de recomposição de estoques, dizem economistas

01 de Junho de 2021 às 22:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Crescimento foi de 1,2% no 1º trimestre de 2021. Exportações agrícolas contribuíram.
Crescimento foi de 1,2% no 1º trimestre de 2021. Exportações agrícolas contribuíram. (Crédito: FABIO SCREMIM / ARQUIVO APPA)

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, com alta de 1,2% sobre o quarto trimestre de 2020, foi puxado por atividades exportadoras, como a agropecuária e a indústria extrativa. Com o avanço, a atividade econômica recuperou todas as perdas registradas no primeiro semestre do ano passado, por causa da pandemia de Covid-19.

Economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo, e da consultoria LCA Consultores e do banco Itaú Unibanco destacaram ainda a força da recomposição de estoques, para impulsionar a demanda, ao lado das exportações e dos investimentos.

Diante da perspectiva de registrar o segundo ano de safra recorde de grãos, com forte demanda externa e pouco atingida pelo isolamento social causado pela pandemia, a agropecuária avançou 5,7% no primeiro trimestre, ante o quarto de 2020.

“Foi um resultado muito surpreendente, que mostra que o produtor está investindo cada vez mais na atividade para aumentar a produção e abastecer o País”, disse o diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi. Para o diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Eduardo Daher, o clima e o câmbio deverão ser determinantes para o desempenho da agropecuária nos próximos trimestres. Essas variáveis “o produtor não controla”, lembrou Daher.

O desempenho da indústria também foi positivo, com alta de 0,7% na comparação com o quarto trimestre de 2020 -- o avanço de 3,0% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado foi o melhor desempenho desde o primeiro trimestre de 2014, quando a indústria saltou 3,9%, antes da recessão de 2014-2016 se abater sobre a economia.

Para alguns economistas, o resultado teve a contribuição de um movimento de recomposição de estoques. Isso ajudaria a explicar o crescimento, apesar da fraca demanda doméstica, com queda no consumo das famílias. A variação de estoques ficou positiva em R$ 83,972 bilhões, após três trimestres de variação negativa. Nas contas da LCA Consultores, excluindo a variação de estoques, a economia teria uma retração de 1,6% sobre o quarto trimestre e não a alta de 1,2% verificada pelo IBGE.

Segundo Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores, nos primeiros meses de pandemia, os estoques foram a níveis historicamente baixos. Por um lado, as fábricas pararam como nunca haviam feito antes, e, por outro, famílias e empresas correram para estocar bens, com receios de escassez. Na segunda metade de 2020, quando a maioria dos países reabriu parte das atividades, muitas fábricas retomaram a produção a pleno vapor, para recompor seus estoques. Ao mesmo tempo, o consumo se recuperou mais rapidamente do que se esperava e foi direcionado para os bens, pois as restrições aos gastos com serviços continuaram. 

Consumo das famílias tem redução de 0,1%

O desempenho do consumo das famílias no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, com queda de 0,1% ante os três últimos meses de 2020 e recuo de 1,7% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, foi impactado negativamente pela inflação mais elevada dos alimentos, pelo aumento do desemprego no mercado de trabalho e pela ausência do auxílio emergencial pago pelo governo às famílias mais pobres, conforme o IBGE.

“A inflação acelerou no primeiro trimestre e isso afeta negativamente o consumo”, afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Embora as restrições ao contato social não tenham sido, no primeiro trimestre, tão severas quanto foram no início da pandemia, houve mais isolamento social do que no fim de 2020, destacou Palis. A pesquisadora disse que “não dá para saber exatamente o que pesou mais” na dinâmica do consumo das famílias, se o impacto positivo do isolamento social menor do que o esperado, ou o impacto negativo da renda em queda e da inflação mais pressionada.

De qualquer forma, segundo a pesquisadora, foi a queda no consumo dos serviços que puxou para baixo a principal componente do PIB pela ótica da demanda. “Tivemos aumento do crédito e isso ajuda o consumo”, acrescentou Rebeca Palis.

A pesquisadora do IBGE destacou ainda os efeitos da pandemia sobre a estrutura do consumo das famílias, com impactos diferentes conforme a renda. Com o isolamento social, houve um direcionamento geral dos orçamentos domésticos para o consumo de bens, em detrimento do consumo de serviços, que dependem mais de contato pessoal.

Só que as famílias mais pobres, que já consumiam mais bens do que serviços, são mais afetadas pela inflação de alimentos e pela ausência do auxilio emergencial. Por sua vez, as famílias mais ricas, que já consumiam mais serviços, foram impedidas de gastar, levando a um aumento da poupança. A taxa de poupança, com 20,6% do PIB, registrou o maior nível da série histórica do IBGE, iniciada em 2000. (Estadão Conteúdo)