Investigações
Assassino de delator no aeroporto de Guarulhos é preso com mais 14 PMs
O crime foi encomendado pelo PCC e a polícia avança nas investigações

A Polícia Civil de São Paulo prendeu 15 policiais militares suspeitos de envolvimento com o crime organizado, inclusive o assassino do empresário e delator Vinicius Gritzbach no aeroporto de Guarulhos, em uma grande operação policial ontem (16). Pela manhã, oficiais da Corregedoria da PM cumpriram os mandados de prisão e também sete de busca e apreensão contra policiais.
Quatorze dos detidos atuavam numa escolta ilícita de segurança pessoal de Gritzbach. Entre esses 14 havia um tenente que atuava como chefe da equipe. Os policiais chegaram a usar um veículo que imitava uma viatura descaracterizada, segundo a investigação. A intenção era valer-se da função de policial militar para dar aparência de que aquilo era uma segurança pessoal. Outro tenente preso facilitava as escalas de serviço de seus subordinados. O 15º preso é o suspeito de ser autor de um dos disparos.
Em coletiva de imprensa no início da tarde, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, informou que a investigação usou várias ferramentas de inteligência para chegar à identificação do atirador. Desde a quebra do sigilo telefônico até o trabalho das estações rádio-base e imagens de câmera de segurança foram fundamentais para identificar o atirador. Agora, será realizada a coleta de material genético dos indivíduos presos e comparação com o material genético coletado no dia do assassinato.
“Alguns (policiais) realizavam escolta ilegal. Conseguiu-se comprovar que os policiais sabiam da conduta delituosa antes e depois, que o Vinicius era um criminoso que tinha função específica na lavagem de dinheiro e que continuava cometendo atos ilícitos após a delação premiada feita com o MP”, explicou Derrite, que ainda acrescentou: “Outro policial que não estava sendo investigado foi colocado na cena do crime. Com imagens, vídeos, fotos do dia do assassinato e imagens coletadas pela Corregedoria, chegou-se a conclusão que esse indivíduo é um dos atiradores e foi solicitada a prisão temporária. Ele já está sob custódia”.
“Vinicius era réu por duplo homicídio de líderes do PCC. Era réu e delator por ser envolvido com lavagem de dinheiro para o PCC. Os policiais tinham conhecimento disso e voluntariamente e conscientemente aderiram e continuaram fazendo segurança pessoal desse indivíduo. Por isso, foram considerados integrantes da organização criminosa”, disse o corregedor.
“Com a prisão de um dos atiradores, a investigação do homicídio e do mandante vai prosperar rápido”, disse a diretora do DHPP . “Temos quebras (de sigilo telefônico) que nos levam a outras pessoas, que não são policiais militares. Quanto aos mandantes, temos duas linhas de investigação, ambas (consideram que o mandante seria integrante) de facção. Foi um crime encomendado por membro do PCC e temos linhas adiantadas de investigação”. (Agência / SP)
Quem era o delator executado em Guarulhos
O empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção na região do Tatuapé, zona leste paulistana. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas ao PCC. Ele fechara acordo de delação premiada em abril. Em reação, a facção pôs um prêmio de R$ 3 milhões pela sua cabeça.
Gritzbach era um jovem corretor de imóveis da construtora Porte Engenharia quando conheceu o grupo de traficantes de drogas de Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta. Foi a acusação de ter mandado matar Cara Preta, em 2021, que motivou a primeira sentença de morte contra ele, decretada pela facção.
Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo. O empresário teria contratado Noé Alves Schaum para matar o traficante. O crime aconteceu em 27 de dezembro de 2021. Além de Cara Preta, o atirador matou Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, segurança do traficante. Conforme as investigações, Schaum foi capturado pelo PCC em janeiro de 2022, julgado pelo tribunal do crime e esquartejado por um criminoso conhecido como Klaus Barbie, referência ao oficial nazista que atuou na França ocupada na 2ª Guerra, onde se tornou o Carniceiro de Lyon. (Estadão Conteúdo)