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Rio vive o ‘dia seguinte’ aos ataques

24 de Outubro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Ataques são a ponta de um problema gigantesco, afirma morador
Ataques são a ponta de um problema gigantesco, afirma morador (Crédito: TOMAZ SILVA / AGÊNCIA BRASIL)

 

“O transporte público sendo queimado é só a ponta de um problema gigantesco que a gente vive na zona oeste”, diz um morador desta região do Rio de Janeiro, onde 35 ônibus e um trem foram queimados na segunda-feira (24) pela maior milícia do Estado. Ele conta que, no dia a dia, paga mais caro por itens como galões de água e botijão de gás, além de não poder escolher serviços de internet ou de TV a cabo, sendo obrigado a contratar aqueles que são controlados pelas milícias.

“Até a água que a gente bebe é determinada, às vezes, pela milícia. Eu posso comprar no raio da minha casa por um valor. Se eu trabalho em outro bairro mais distante, e lá for mais barato, eu não posso levar para onde eu moro por risco de sofrer alguma violência. Eles impactam muito o ‘ir e vir’ das pessoas. É muito complicado, complicado até de falar. É um silêncio que parece calma, mas é medo”, afirma.

Na segunda-feira, os veículos foram queimados em reação à morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, ligado à milícia e que foi morto pela polícia. A reação do crime organizado é considerada pela Rio Ônibus o maior ataque à frota da cidade já realizado em um único dia. A ação, classificada de terrorista pelo governo do estado, chamou a atenção para as milícias, cujo domínio cresce no Rio de Janeiro.

Um dia após os ataques, 12 postos de saúde foram fechados e 16 suspenderam as visitas domiciliares. Segundo informou a prefeitura ontem (24), são unidades de atenção primária que ficam em locais onde barricadas foram colocadas nas ruas. O município afirma ainda que profissionais sofreram ameaças.

Também ontem, mais de 30 escolas suspenderam as atividades presenciais. Com medo de novos ataques, comerciantes voltaram a fechar as portas mais cedo. No calçadão de Campo Grande, badalado centro comercial, o movimento estava bem abaixo do normal e várias lojas funcionaram em horário reduzido.

Milícias

Atualmente, cerca de 20% da área da região metropolitana do Rio de Janeiro é controlada por algum grupo armado, e as milícias dominam metade dessas áreas, conforme o Mapa dos Grupos Armados. Em 16 anos, as áreas dominadas pelas milícias cresceram 387%.

De forma geral, as milícias são grupos paramilitares formados tanto por servidores públicos da área de segurança quanto por civis da área de segurança. Segundo o professor José Claudio Sousa Alves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, as milícias desenvolvem-se a partir dos grupos de extermínio, que se formaram nos anos de 1990. (Agência Brasil)