Geral
Stédile desafia deputados que compõem CPI do MST
Horas antes de comparecer à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, seu mais conhecido líder, preferiu tratar em sua conta no Twitter da política de Joe Biden para a Ucrânia, das ações do presidente colombiano Gustavo Petro para a Amazônia, das mortes de adolescentes negros em comunidades carentes do Rio entre outros temas, menos da CPI.
O silêncio de Stédile nas redes sociais às vésperas do depoimento foi rompido por uma entrevista ao jornal Brasil de Fato, na qual acusou os deputados da “extrema direita” de transformar a CPI “em um circo com todo tipo de estripulias e agressões”, no qual os parlamentares “abusam, deixam de ter posturas civilizatórias e ofendem, para ver se as pessoas reagem de forma intempestiva”. E lançou um desafio aos membros da CPI: “Eu estou preparado, cinco ou sete horas são normais para nós; nossos cursos de formação duram dias, alguns duram semanas. Tem curso que dura um mês. Não será um problema”.
O homem que empareda governos com invasões de terras pelo País afora gabou-se do fato que esta é a terceira CPI que enfrenta. “Nós não temos nada a perder”. Seu depoimento deve ser o último da comissão antes de o relator, o deputado Ricardo Salles (PL-SP) apresentar suas conclusões.
Quando recebeu a convocação para depor há quase um mês, o líder do MST disse: “Eu irei depor . Não cometi crime, não tenho medo. Agora, a CPI não é contra o MST e sim contra o governo Lula, contra a esquerda”. Sua estratégia de defesa será transformar seu depoimento em um embate entre a direita e a esquerda.
Os adversários de Stédile, como o ex-presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) Xico Graziano, defendem que ele seja questionado sobre as relações do movimento com as compras feitas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Stédile deve ainda apresentar os números por meio dos quais defende o movimento e pressiona o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele mesmo já advertiu que o petista será cobrado se ficar “lerdo e medroso”.
No começo do ano, o sem-terra disse que o movimento teria autonomia em relação ao governo para criticá-lo. E justificou-se: “Nós ajudamos a eleger, então, ele é o nosso governo”. Naquele momento, o MST havia retomado as invasões de terra no País, em áreas de Pernambuco e da Bahia. Semanas depois, o chefe do grupo recebeu, na feira promovida pelo MST em São Paulo, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.
A estratégia de se vincular ao governo não deve impedir que o relatório da CPI proponha indiciar lideranças envolvidas em invasões de terras. (Estadão Conteúdo)