Política
Planalto adota silêncio sobre irregularidades de ministro
Ideia do Governo Federal é esperar eleição no Congresso para discutir o assunto
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou a estratégia do silêncio sobre irregularidades cometidas com dinheiro público pelo ministro das Comunicações, Juscelino Filho. O núcleo duro do governo mantém distância regulamentar das denúncias para evitar que uma crise política atinja o Palácio do Planalto. O momento também é considerado delicado, já que hoje, 1.º, haverá eleições para escolha dos presidentes da Câmara e do Senado.
Nos bastidores, ministros envolvidos na articulação política com o Congresso avaliam que qualquer passo em falso pode ter impacto na votação. Lula apoia a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no Senado. A recondução de Lira é vista como ‘favas contadas‘, mas Pacheco, apesar de favorito, vai enfrentar Rogério Marinho (PL-RN), que tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Indicado para a equipe de Lula pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), principal avalista da candidatura de Pacheco à reeleição, Juscelino disse a interlocutores que está sendo alvo de ‘fogo amigo‘.
Nos últimos dois dias, a reportagem mostrou que Juscelino enviou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada de terra em frente à sua fazenda, na cidade de Vitorino Freire, no Maranhão. O ministro é deputado licenciado pelo União Brasil e, quando concorria à reeleição, no ano passado, também apresentou informações falsas à Justiça Eleitoral sobre viagens de helicóptero. Com isso, justificou o pagamento de R$ 385 mil do Fundo Eleitoral para sua campanha.
No arranjo político para montar a base de sustentação do governo no Congresso, o nome de Juscelino acabou sendo um dos últimos confirmados por Lula. A atuação de Alcolumbre desagradou à bancada do União Brasil na Câmara, que não se sentiu contemplada com as indicações para a equipe de Lula. Além de Juscelino, Alcolumbre foi padrinho político da nomeação de Waldez Góes, ex-governador do Amapá, para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. Filiado ao PDT desde 1989, Góes pediu afastamento do partido e entrou no primeiro escalão na cota do União Brasil.
Daniela Carneiro (União Brasil-RJ), por sua vez, assumiu o Ministério do Turismo. Ela é acusada de ter ligação com a milícia do Rio. Apesar de comandar três ministérios, o União Brasil decidiu ficar ‘independente‘ do governo e não garante aprovar todos os projetos de interesse do Planalto no Congresso. O partido tem 59 deputados e dez senadores. É a terceira maior força na Câmara.
Em reunião da coordenação do PT, na segunda-feira, 30, integrantes da bancada do partido manifestaram mal-estar com denúncias que pesam contra Juscelino. Segundo relatos, deputados disseram ali que não era por ser um governo de ‘frente ampla‘ que Lula precisava aceitar qualquer indicação.
Até agora, todas as nomeações do União Brasil para o Ministério apresentaram problemas. Waldez Góes, por exemplo, foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2019, a seis anos e nove meses de prisão, em regime semiaberto, acusado de desviar recursos de empréstimos consignados de servidores estaduais. A ação foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e está paralisada na Corte.
Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil na Câmara, teve o nome vetado pelo PT da Bahia para a cadeira de Integração e Góes foi indicado por Alcolumbre para a vaga. Mas Elmar tem muita influência sobre a bancada e, por isso, o governo deve manter sob seu controle a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A empresa ficou conhecida no governo de Jair Bolsonaro como ‘estatal do Centrão‘ por ser uma das que mais manejaram recursos do orçamento secreto e enfrentou várias denúncias de superfaturamento de obras. (Estadão Conteúdo)