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Contrabando de mercúrio para garimpeiros causou rombo de R$ 1,1 bilhão

Informação foi passada pela Polícia Federal durante a Operação Hermes

04 de Dezembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
O mercúrio é usado no garimpo pela capacidade de aderir ao ouro, o que facilita a separação do metal precioso
O mercúrio é usado no garimpo pela capacidade de aderir ao ouro, o que facilita a separação do metal precioso (Crédito: Freepik)

A Polícia Federal (PF) suspeita que o esquema de fraudes nos sistemas do Ibama para distribuir mercúrio contrabandeado a regiões de garimpo ilegal na Amazônia, revelado na quinta-feira, 1º, na Operação Hermes (Hg), tenha começado há quase uma década. O prejuízo estimado aos cofres públicos é de R$ 1,1 bilhão.

A Justiça Federal autorizou a prisão de 14 pessoas: cinco em regime preventivo (quando não há prazo determinado para a soltura) e as demais em caráter temporário (que tem duração inicial de cinco dias, com possibilidade de renovação ou conversão em prisão preventiva).

A juíza Raquel Coelho Dal Rio Silveira, da 1.ª Vara Federal de Campinas, também deu sinal verde para o bloqueio de bens dos investigados e para a PF fazer buscas em 49 endereços nos Estados de Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rondônia. Os mandados foram cumpridos em imóveis comerciais e residenciais, depósitos e áreas de mineração.

A Polícia Federal chegou a pedir para fazer buscas em um endereço em Portugal, mas o Ministério Público Federal foi contra, por causa das ‘formalidades de cooperação internacional‘

A decisão judicial que autorizou a operação, obtida pela reportagem, cita a longevidade da organização criminosa e os indícios reunidos pela PF de que o grupo continua em operação.

‘De se observar que, ao longo dos anos, após sucessivas suspensões de empresas autorizadas à importação de mercúrio, o esquema criminoso se rearticula de maneira extremamente ágil‘, observou a juíza. ‘Ademais, não se perca de vista que se trata, a associação/organização criminosa, de crime permanente.‘

O mercúrio é usado no garimpo pela capacidade de aderir ao ouro, o que facilita a separação do metal precioso. Depois dessa seleção, o mercúrio é aquecido até evaporar. A maior parte vai para a atmosfera e, com as chuvas, chega aos rios. Por ser um metal altamente tóxico, pode comprometer a saúde de animais e humanos.

Todo o mercúrio usado no Brasil é importado. Isso porque o País não tem reservas naturais. Embora o Ibama tenha um protocolo legal para importação, há rotas clandestinas, sobretudo na fronteira com a Bolívia.

O grupo investigado na Operação Hermes (Hg) é suspeito de fraudes nos sistemas do Ibama para dar aparência de legalidade ao mercúrio contrabandeado. O órgão controla a produção nacional, que consiste quase inteiramente na reciclagem de materiais como lâmpadas e insumos odontológicos, para evitar o descarte irregular, por meio do Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais (CTF/APP).

O esquema seria operado por meio de declarações falsas de produção: empresas de fachada seriam criadas para declarar que haviam obtido o mercúrio por meio de reciclagem ou pela compra de créditos de outras empresas.

O destino final seria o abastecimento de garimpos na Amazônia Legal (Mato Grosso, Rondônia e Pará). A Justiça Federal apontou uma ‘imbricada relação de atravessadores e destinatários do produto‘.

A PF vê indícios de associação criminosa, contrabando, falsidade ideológica, uso de documento falso, crimes ambientais, receptação e lavagem de dinheiro.

A segunda etapa do esquema, ainda segundo a investigação, envolveria a lavagem do lucro obtido com o comércio ilegal do mercúrio contrabandeado. A Polícia Federal informou à Justiça que empresas de fachada, testas de ferro e laranjas seriam usados para blindar as lideranças. A PF também apontou a compra e venda de imóveis, o registro de bens em nome de empresas e uma ‘mescla entre o capital ilícito com eventual capital lícito‘ para dificultar o rastreio pelas autoridades.

‘Para esta tipologia é muito comum a utilização de ramos de negócio em que se costuma pagar em dinheiro e cuja identificação dos clientes não existe ou é praticamente impossível (por exemplo, restaurantes, lavanderias, hotéis e pousadas, postos de gasolina, empresas de ônibus, etc.)‘, explicam os investigadores

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) também apontou ‘movimentações atípicas e suspeitas‘ entre os investigados. (Estadão Conteúdo)