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Desmatamento cresce em todos os biomas, diz estudo

Na Amazônia, a estimativa é de que sejam derrubadas 18 árvores por segundo. E apenas 27% das áreas desmatadas são alvo de alguma fiscalização

18 de Julho de 2022 às 09:06
Cruzeiro do Sul [email protected]
Quase 73% das áreas desmatadas, entre 2019 e 2022, apresentam indícios de ilegalidade – o que corresponde a três em cada quatro hectares
Quase 73% das áreas desmatadas, entre 2019 e 2022, apresentam indícios de ilegalidade – o que corresponde a três em cada quatro hectares (Crédito: Divulgação/Governo Federal)

Relatório divulgado nesta segunda-feira (18), aponta que o desmatamento no Brasil cresceu 20,1% em 2021, atingindo 16,5 mil km² em todos os biomas. Em três anos, o Brasil perdeu uma área verde próxima à do Estado do Rio de Janeiro. Na Amazônia, a estimativa é de que sejam derrubadas 18 árvores por segundo. E apenas 27% das áreas desmatadas são alvo de alguma fiscalização.

Os dados são do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil, do MapBiomas, iniciativa do Observatório do Clima realizada por uma rede de universidades, ONGs e empresas de tecnologia. "Indicam que há um problema crônico e se agravando em todas as regiões do Brasil", diz Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

Segundo o estudo, 77% da área total desmatada ficava em um imóvel registrado no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural. "Em ao menos três quartos dos desmatamentos, é possível encontrar um dono ou responsável", diz. Para ele, é preciso fortalecer ações, como embargar terras com desmate ilegal (o que dificulta o acesso a financiamento), impedir regularização fundiária em áreas com desmate irregular e banir produtos de origem irregular do mercado.

Em dados brutos, a Amazônia é o bioma com maior território afetado: 59% do total. Depois vêm Cerrado (cerca de 30%), Caatinga (7%), Mata Atlântica (1,8%), Pantanal (1,7%) e Pampa (0,1%). Proporcionalmente, tiveram maior alta em um ano a Caatinga (89%) e o Pampa (92%), mas os resultados sobre o primeiro bioma derivam também de melhora na captação de dados.

A agropecuária é o principal vetor de pressão (96,6%) para o desmate. Também há perdas ligadas a garimpo, mineração, expansão urbana e usinas de energias solar e eólica.

Os eventos de maior porte, em mais de 100 hectares (um km²), cresceram 37,8% em um ano. A fins de comparação, o Parque do Ibirapuera tem 1,6 km². "Quando se torna maior, é sinal que a impunidade está perdurando, porque a área maior é mais fácil de detectar e fazer uma ação", diz Azevedo.

Houve desmate irregular em 2,1% das propriedades rurais (134.318 mil). "Os outros 98% não desmatam irregularmente, mas sofrem consequências do mercado, chuva, aumento de preços da energia (causados pelo dano ambiental)", aponta.

Do total desmatado, 5,3% estavam em áreas protegidas, 3,6% em unidades de conservação e 1,7% em terras indígenas. A Área de Proteção Ambiental do Triunfo do Xingu e a Floresta Nacional do Jamanxim, ambas no Pará, são as mais atingidas. Das terras indígenas, 40,5% tiveram ao menos um registro de desmate.

SEM PUNIÇÃO

O estudo diz ainda que a maioria dos casos não tem fiscalização e punição: embargos e autuações federais só em 10,5% da área desmatada, entre 2019 e 2021. A gestão Jair Bolsonaro é alvo de críticas no Brasil e no exterior por enfraquecer órgãos de fiscalização ambiental. Procurado ontem, o Ministério do Meio Ambiente não comentou até 19h30.

Os números são mais positivos se somados ao crescimento de ações em parte dos Estados e Ministérios Públicos, chegando a 27,1% da área desmatada. "Se tem algo de positivo em relatório tão dramático é que ampliaram as ações em Estados, seja porque foram mais transparentes, com mais informações disponíveis, seja por efetivamente começarem a aplicar mais em ações de fiscalização", destaca Azevedo. (Estadão Conteúdo)