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Laudo inédito afasta boatos sobre morte de Dom Pedro I
Embora historiadores tratem como consenso que a causa da morte de Dom Pedro I (1798-1834), primeiro imperador do Brasil, tenha sido tuberculose, é recorrente o boato de que o monarca, que há 200 anos proclamou a independência brasileira, tenha sido vítima de sífilis. Sua vida sexual notoriamente agitada, em que amantes ocasionais e paixões duradouras foram uma constante, justificaria essa lenda.
Mas agora, um novo elemento soma-se aos indícios concretos já conhecidos sobre sua verdadeira causa mortis, permitindo concluir que ele não só não morreu da infecção sexualmente transmissível como, a julgar pelos tratamentos a que foi submetido, nem sequer contraiu a doença.
Trata-se de uma série de laudos médicos, inéditos, com detalhes sobre os medicamentos ministrados ao nobre português nas últimas semanas de sua vida. Esse material, até então desconhecido, estava em Munique, na Alemanha, e foi descoberto por uma pesquisadora e escritora brasileira, Cláudia Thomé Witte, e repassado para o também pesquisador e escritor Paulo Rezzutti, biógrafo de diversas personalidades da monarquia brasileira.
Rezzutti analisou os documentos com a ajuda do médico português Pedro de Freitas, doutor pela Universidade Maimonides, nos Estados Unidos, e historiador diletante. “Não há nenhum dado que aponte para sífilis, nem nunca vi nenhuma descrição das lesões típicas da sífilis, nos genitais, na pele etc”, afirma Freitas.
Um artigo do médico, explicando minuciosamente a ficha médica de Dom Pedro I, consta da nova edição da biografia dele escrita por Rezzutti -- e a editora LeYa acaba de distribuir para as livrarias um boxe comemorativo com as reedições ampliadas de “D. Pedro I - O Homem Revelado por Cartas e Documentos Inéditos” e “D. Leopoldina - A Mulher que Arquitetou a Independência do Brasil”.
Segundo Freitas, o boato da sífilis pode ter surgido do fato de que Pedro foi submetido a tratamento com mercúrio, que era algo utilizado na época para tentar combater a infecção sexual. Mas, conforme ele salienta, no caso do ex-imperador brasileiro, a opção de medicamento foi feita “como antihemorrágico para evitar as hemoptises”, ou seja, a eliminação de sangue pela tosse.
“E o fato de só ser introduzido esse medicamento nesta fase avançada da doença prova que não o fazia antes (para controlar uma eventual sífilis). Aliás, com a vida sexual tão intensa e diversificada de dom Pedro, até estranho ele não ter contraído sífilis. Mas nada encontrei a esse respeito”, afirma o médico. (Estadão Conteúdo)