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Fim das buscas

PF confirma que indigenista e jornalista foram assassinados

Suspeito confessou ter enterrado Bruno Pereira e Dom Phillips; restos mortais foram encontrados

15 de Junho de 2022 às 23:17
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Policiais federais escoltam "Pelado": ele próprio indicou o local onde os corpos foram enterrados
Policiais federais escoltam "Pelado": ele próprio indicou o local onde os corpos foram enterrados (Crédito: AFP PHOTO / AGÊNCIA PúBLICA / AVENER PRADO)

Após dez dias de buscas, o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Eduardo Alexandre Fontes, afirmou nesta quarta-feira (15) que o pescador Amarildo Oliveira, conhecido como “Pelado”, confessou o assassinato do indigenista Bruno Pereira, de 41 anos, servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e do jornalista britânico Dom Phillips, de 57 anos, colaborador do jornal The Guardian. Eles desapareceram no dia 5 deste mês no Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, e foram mortos no mesmo dia.

De acordo com Fontes, Pereira e Phillips foram assassinados com arma de fogo, conforme relato de Pelado. Foram encontradas partes de corpos nas áreas de buscas, que o ministro da Justiça, Anderson Torres, classificou de “remanescentes humanos”. Uma das hipóteses sob investigação é que os corpos tenham sido carbonizados antes de serem enterrados. A polícia ainda aguarda a perícia para definir a causa da morte

“Ontem (anteontem) à noite nós conseguimos que o primeiro preso neste caso, conhecido por Pelado, voluntariamente confessasse a prática criminosa. Durante a confissão, ele narrou com detalhes o crime realizado e apontou o local onde havia enterrado os corpos”, afirmou Fontes, durante entrevista coletiva em Manaus. “A princípio ele (Pelado) alega que foi com arma de fogo, mas temos que aguardar a perícia porque ela que vai dizer, identificar qual foi a causa da morte, as circunstâncias e a motivação.”

Segundo o superintendente, a PF levou Pelado e Oseney da Costa de Oliveira, irmão de Pelado conhecido como “Dos Santos”, também suspeito de envolvimento no crime, para a área de buscas no Rio Itaquaí, em Atalaia do Norte (AM). Dos Santos teve a prisão temporária, assim como Pelado, de 30 dias decretada ontem. Os dois pescadores admitiram que Bruno e Dom foram abordados e mortos no trajeto de barco entre a cidade e a Comunidade São Rafael. Ainda estão sendo feitas escavações no local, que fica a 3,1 km do rio. Também foi encontrado o barco usado por Pereira e Phillips, que foi afundado no local com sacos de areia.

“Nós não descartamos a hipótese de outras pessoas estarem envolvidas. Temos muito o que fazer no inquérito para coletar seguramente provas de autoria e materialidade”, afirmou o delegado da Polícia Civil, Guilherme Torres.

“Temos o depoimento, a confissão do preso, levando até uma área distante, onde os corpos seriam encontrados, onde foram enterrados. A equipe caminhou 25 minutos para chegar até ali, desenterrou, então tudo nos leva a crer. Agora, tecnicamente, preciso de reconhecimento de parentes, de um exame de DNA para poder dizer e para ter a conclusão do inquérito”, disse.

Os novos materiais descobertos e vestígios humanos coletados próximos ao local na sexta-feira (10) estão sendo periciados. A análise é feita a partir de materiais genéticos fornecidos pelas famílias de Pereira e Phillips. Uma mochila com pertences do jornalista também foi identificada na mesma área.

Pereira e Phillips percorriam a região do Vale do Javari. Pereira orientava moradores da região a denunciar irregularidades cometidas em reserva indígena -- como pesca ilegal, mineração e exploração de madeira -- e o jornalista estrangeiro acompanhava o trabalho para registrar em livro que pretendia escrever.

A mulher de Phillips, Alessandra Sampaio, emitiu uma nota. “Agora podemos levar eles (sic) para casa e nos despedirmos com amor. Hoje se inicia também a nossa jornada em busca por justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível”, afirmou. 

Região convive com episódios de violência

"Dos Santos", irmão de "Pelado", é conduzido pela PF. - AFP PHOTO / AGÊNCIA PÚBLICA / AVENER PRADO
"Dos Santos", irmão de "Pelado", é conduzido pela PF. (crédito: AFP PHOTO / AGÊNCIA PÚBLICA / AVENER PRADO)

O caso do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira no Vale do Javari chamou atenção do mundo para a violência na Amazônia Legal, que é marcada pela ação de organizações criminosas e ausência do poder público. A ele se juntam episódios de violência na região, como os assassinatos da missionária americana Dorothy Stang, em fevereiro de 2005, e do ambientalista Chico Mendes, em dezembro de 1988, além de outros que não tiveram a mesma repercussão.

Para o historiador Ronilson Costa, coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o episódio no Vale do Javari expõe “o quanto o Estado está ausente na região e como não há uma presença que dialogue com as demandas dos povos tradicionais”.

Levantamento anual da CPT aponta que, somente no ano passado, ocorreram pelo menos 28 assassinatos por conflitos de terra. A maioria das vítimas é indígena. Rondônia é o Estado com maior número de assassinatos (11) em casos semelhantes no ano passado.

Em janeiro deste ano, uma família de ambientalistas foi assassinada em São Félix do Xingu, no sudeste do Pará. José Gomes, conhecido como Zé do Lago, sua mulher, Márcia Lisboa, e a filha adolescente do casal foram encontrados mortos na propriedade da família, onde desenvolviam trabalhos de proteção da floresta. (Estadão Conteúdo)

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