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Política

Daniel Silveira diz que tornozeleira da PF 'tem vida própria' e pede substituição

A solicitação foi feita em razão de Silveira alegar 'ruídos estranhos' e 'esporádicas vibrações' do equipamento

04 de Abril de 2022 às 14:54
Cruzeiro do Sul [email protected]
Inquérito apura se Daniel Silveira cometeu crime de desobediência ao violar monitoramento da tornozeleira eletrônica
Inquérito apura se Daniel Silveira cometeu crime de desobediência ao violar monitoramento da tornozeleira eletrônica (Crédito: Reprodução/ Twitter)

Depois de recuar e colocar tornozeleira eletrônica, o deputado bolsonarista Daniel Silveira voltou a acionar a corte máxima questionando o monitoramento que lhe foi imposto em razão dos sucessivos ataques aos ministros do tribunal. A defesa do parlamentar diz que o equipamento instalado na sexta-feira, 31, no tornozelo de Silveira, dentro da sede Polícia Federal no Distrito Federal, tem 'vida própria' e pede a substituição por um aparelho fornecido pela Secretaria de Administração Penitenciária do Rio.

O advogado do deputado, Paulo César Rodrigues de Faria, alega 'anormalidades' e 'comportamentos estranhos' da tornozeleira e liga o pedido de substituição do equipamento à 'segurança institucional' de seu cliente. Citando 'suspeitas de manipulação', a defesa quer que o aparelho passe por perícia, mas não no Rio de Janeiro, nem no Distrito Federal, em razão de 'dúvidas sobre a imparcialidade do órgão nessas cidades'.

A solicitação foi feita em razão de Silveira alegar 'ruídos estranhos' e 'esporádicas vibrações' do equipamento. O deputado diz que há dúvidas sobre a 'integridade e confiabilidade do equipamento', sustentando até que poderia haver uma 'escuta' no aparelho. Ao levantar tal suspeita, a defesa chega a citar 'ocorrências anteriores' afirmando que a policiais federais 'mentiram descaradamente' quando relataram que o deputado tentou pular o muro de sua casa quando foi cercado por agentes que tentavam cumprir seu mandado de prisão no ano passado.

Procurada pela reportagem, a Polícia Federal não se manifestou sobre as alegações de Silveira até a publicação da reportagem.

Além disso, a defesa pede que o ministro Alexandre de Moraes - relator da ação penal em que o deputado é réu por divulgar um vídeo com apologia ao Ato Institucional Número 5 (AI-5) e discurso de ódio contra integrantes da Corte - seja impedido de julgar processos a que Silveira responda na justiça.

O deputado bolsonarista recuou da afronta à ordem emanada por Alexandre e colocou o aparelho de monitoramento eletrônico na tarde de quinta-feira, 31, na sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. O horário de instalação do equipamento foi fixado por Alexandre de Moraes na manhã do mesmo dia.

O recuo ocorreu depois de o ministro do Supremo estabelecer multa de R$ 15 mil por cada dia de descumprimento da decisão judicial que impôs ao bolsonarista o uso da tornozeleira eletrônica. Além disso, o relator do inquérito das milícias digitais bloqueou as contas do bolsonarista e mandou abrir uma investigação para apurar se ele cometeu crime de desobediência ao descumprir a decisão do STF.

Antes, Silveira se negava a colocar o aparelho de monitoramento eletrônico, medida que foi solicitada pela Procuradoria-Geral da República. A Polícia Federal e a Polícia Penal do Distrito Federal foram até a Câmara para tentar dar cumprimento à medida cautelar, sem sucesso.

Ao apertar o cerco contra o bolsonarista, Alexandre disse que Silveira tentou se 'valer das dependências' da Câmara dos Deputados como forma de 'indenidade penal, em completa deturpação da natureza do cargo'. "Estranha e esdrúxula situação, onde o réu utiliza-se da Câmara dos Deputados para esconder-se da Polícia e da Justiça, ofendendo a própria dignidade do Parlamento, ao tratá-lo como covil de réus foragidos da Justiça", diz um trecho da decisão.

Em julgamento no Plenário virtual, os ministros do STF confirmaram a decisão que levou Silveira a colocar a tornozeleira eletrônica. Edson Fachin, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Rosa Weber, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Ricardo Lewandowski votaram no sentido de chancelar o posicionamento de Alexandre de Moraes. Indicados ao STF pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça foram os únicos a votar contra as restrições impostas ao deputado.

Já o julgamento da ação penal a que o deputado Daniel Silveira responde por divulgar um vídeo com apologia ao Ato Institucional Número 5 (AI-5) e discurso de ódio contra integrantes da Corte foi marcada para o dia 20 de abril. A defesa do parlamentar tenta adiar a análise da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República. A decisão sobre a recolocação da tornozeleira eletrônica em Silveira também deve ser analisada na ocasião. Há a expectativa de que as medidas cautelares contra o parlamentar sejam definidas novamente durante o julgamento. (Estadão Conteúdo)