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Petrópolis

Moradores convivem com angústia à espera de notícias

17 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Bombeiros utilizam cães farejadores na busca por soterrados.
Bombeiros utilizam cães farejadores na busca por soterrados. (Crédito: CARL DE SOUZA / AFP)

Ruas enlameadas, ônibus caídos em córregos, inúmeros veículos uns sobre os outros, casas destruídas, falta de energia elétrica em diversos bairros e uma quantidade de mortos que só aumenta. Há ainda incerteza sobre o total de desaparecidos, uma vez que não se sabe ao certo quantas casas estão soterradas no Morro da Oficina.

A área foi a mais atingida pelas chuvas em Petrópolis (RJ). Ao longo da madrugada e de toda a manhã, bombeiros, moradores e voluntários trabalharam no resgate de vítimas. No pé do morro, amigos e parentes aguardavam em vão por notícias, uma vez que o sinal de celular praticamente inexiste.

“Vim por causa de um colega. A mãe e a filha dele, de cinco anos, estão soterradas”, contou Letícia Jennifer, de 28 anos. “Meu colega ficou a noite toda ajudando a cavar. A casa está soterrada, ela tem três andares e o segundo está soterrado.”

Letícia é tia de Emanuelle, uma das crianças que estava na escola José Fernandes da Silva, que fica na mesma área e que teve os fundos parcialmente destruídos. “Ela (Emanuelle) falou que foi horrível, que parecia filme de terror. A água batendo nela, as cadeiras. Um amiguinho ficava segurando a mão do outro, porque a correnteza estava muito forte.”

A mãe de Emanuelle só foi ter notícias da filha por volta das 22h, quando a encontrou no Pronto Socorro que fica ao lado. “Minha filha ficou soterrada, foi levada pra UPA cheia de barro, bebeu água de lama”, narrou a dona de casa Dayana Gonçalves. “Ela me disse que os alunos agiram por conta própria. Muitos ficaram machucados, havia muitos em estado de choque. Minha filha está muito assustada e disse que não vai mais pra escola ‘

A costureira Sheila Mara Loiola, de 45 anos, também estava à espera de notícias sobre desaparecidos. Ela disse que acolheu muitas pessoas em sua casa desde a noite de terça. “Dois amigos nossos perderam a família inteira. Teve uma menina que só sobrou ela, não sobrou ninguém da família. Foi mãe, marido, todo mundo.”

Moradores usaram as redes sociais para contar o drama. As publicações e os vídeos incluem deslizamentos, enxurradas com veículos e árvores e até relato de arrastão após os temporais. “Gente se aproveitando do caos para roubar as pessoas e lojas”, disse o youtuber Peter Jordan num vídeo. 

Tragédias são frequentes na região

Em 2011, a região serrana do Rio viveu outra catástrofe natural por causa de chuvas e deslizamentos de terra, considerada a maior tragédia climática do Brasil. Na época, em poucas horas, um temporal na madrugada do dia 12 de janeiro matou mais de 900 pessoas em três municípios -- 130 em Teresópolis, 97 em Nova Friburgo e 18 em Petrópolis. Não foi só: em 2001, foram 57 mortos em Petrópolis e, em 2013, houve outra tragédia por causa da chuva, com 33 mortos.

A chuva extrema que atingiu a serra do Rio nesta terça-feira (15) foi motivada pela formação de áreas de instabilidade a partir da passagem de uma massa de ar fria pelo Estado e potencializada pelas características do relevo da região, segundo meteorologistas.

Ao chegar à região, a massa de ar frio resultou na chamada “chuva orográfica” ou “chuva de relevo”, na qual as características de serra forçam uma elevação dos ventos úmidos, o que leva a um encontro com temperaturas mais baixas e a consequente precipitação.

“O relevo obriga a umidade a subir na atmosfera e formar nuvens que devolvem a umidade na forma de chuva”, explica Estael Sias, meteorologista da MetSul.

Também influenciam para o cenário catastrófico o histórico recente de chuvas, as mudanças climáticas, a urbanização desordenada e a ocupação do solo, por exemplo. (Estadão Conteúdo)