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Meio Ambiente

Nível de CO2 bate recorde

Parte da Amazônia já emite o gás estufa, segundo a OMM

27 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: LUIZ SETTI / ARQUIVO JCS (31/8/2012))

Mesmo com a redução de emissões na pandemia, a concentração de dióxido de carbono (CO2), principal gás responsável pelo efeito estufa, atingiu novo recorde ao ficar em 413 partes por milhão (ppm), em 2020, conforme alerta feito ontem (25) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). O aumento do dióxido é de 0,6% ante 2019. Se comparado aos níveis pré-industriais, em 1750, os níveis de CO2 são 49% maiores. A entidade também aponta que partes da Amazônia já se tornaram emissoras de gás carbônico.

A agência das Nações Unidas (ONU) também prevê que, ao fim de 2021, os níveis de CO2 na atmosfera devem superar o recorde de 2020. A OMM estima que as medições do meio do ano, em observatórios como o de Tenerife (Espanha) e Havaí (EUA), podem indicar concentrações de até 419 ppm, o que não se via havia pelo menos 3 milhões de anos.

Outros gases responsáveis pelo efeito estufa também registraram aumento no ano passado, em comparação com 2018. As concentrações de metano (CH4) e óxido de nitrogênio (N2O) já são, respectivamente, 262% e 123% superiores às de 1750. A paralisação de setores importantes da economia global em 2020 -- com a queda da atividade industrial e da circulação de veículos -- motivou redução temporária nas novas emissões de CO2. Os lançamentos de gases derivados de combustíveis fósseis apresentaram queda de 5,6%.

Porém, conforme a OMM, isso “não teve efeito perceptível nos níveis de gases de efeito estufa”, embora o crescimento anual na concentração de CO2 tenha sido ligeiramente menor. “Na atual taxa de aumento nas concentrações de todos esses gases, veremos aumento de temperatura muito maior do que as metas de 2 ºC do Acordo de Paris (pacto climático de 2015, assinado por 195 países)”, afirma Petteri Taalas, secretário geral da OMM.

Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), a ser realizada em Glasgow, a agência espera mostrar que os países devem tomar medidas urgentemente. “Muitas nações estão agora estabelecendo metas de neutralidade de carbono, e é de se esperar que, na COP-26, haja aumento dramático desses compromissos”, diz.

Conforme a agência, metade do CO2 emitido pela ação humana fica na atmosfera e a outra é absorvida por oceanos e ecossistemas terrestres (chamados de sumidouros). A quantidade que permanece, por sua vez, indica o equilíbrio entre sumidouros e fontes emissoras, que muda anualmente por causa da variabilidade natural.

Nos últimos 60 anos, os sumidouros terrestres e oceânicos cresceram proporcionalmente com a alta das emissões, diz a OMM. Porém, a capacidade de absorção é influenciada negativamente pelas mudanças climáticas - fenômeno que já ocorre na Amazônia. A OMM informou que áreas da porção oriental da floresta deixaram de ser sumidouros e se tornaram fontes emissoras de CO2.

“As regiões da Amazônia oriental têm aumento de temperaturas muito forte na estação seca, diminuição de chuvas e grande desmate, durante os últimos 40 anos.” A região ocidental, por sua vez, apresenta baixos níveis de emissão ou são sumidouros do principal gás de efeito estufa, por ter menos interferência humana. Um estudo liderado por uma pesquisadora do Inpe, e publicado na Nature em julho, já havia indicado essa tendência.

Brasil fracassa na redução de emissões

O Brasil foi o país que mais regrediu em suas ambições de reduzir as emissões de gás carbônico (CO2) entre as nações do G20, aponta um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado ontem (26). Publicado a poucos dias da Conferência do Clima (COP-26), em Glasgow, o documento destaca ainda que as promessas climáticas para 2030 colocam o mundo no caminho de aumento de temperatura de pelo menos 2,7ºC neste século.

O Relatório sobre Lacuna de Emissões, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), detalha o status das promessas dos países para reduzir as emissões de CO2, chamadas de NDCs (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas). As NDCs são apresentadas a cada cinco anos e refletem os compromissos de redução de emissões dos países para conter o aquecimento global.

No caso do Brasil, segundo o relatório da entidade global, a NDC atualizada “leva a um aumento absoluto” nas emissões, da ordem de 300 milhões de toneladas de CO2. A promessa brasileira de redução de emissões original, feita em 2015, e a promessa atualizada apresentam a mesma meta porcentual: de queda de 43% até 2030 em relação aos níveis de emissão de 2005.

O que muda é o ponto de partida para estimar os lançamentos de gases estufa. A gestão Jair Bolsonaro revisou retroativamente os dados brasileiros sobre emissões em 2005 -- o que eleva a base de cálculo, de 2,1 bilhões de toneladas de CO2 por ano, para 2,8 bilhões. Essa manobra brasileira, chamada por ambientalistas de “pedalada climática”, foi contestada por entidades na Justiça e pode ser alvo de críticas na cúpula de Glasgow. Isso não significa que o Brasil seja o dono da pior meta, mas que o País tem caminhado no sentido contrário, de compromissos menos ambiciosos contra o aquecimento global.

A expectativa de ambientalistas é de que o Brasil apresente uma nova atualização até a COP-26, que começa na próxima semana, ou mesmo durante o evento. Os ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores não se manifestaram. (Estadão Conteúdo)