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CPI da Covid

Paciente relata drama vivido na UTI da Prevent Senior

"Meus equipamentos seriam desligados", afirma advogado

08 de Outubro de 2021 às 00:01
Estadão Conteúdo [email protected]
O advogado Tadeu Andrade ficou 30 dias internado na UTI.
O advogado Tadeu Andrade ficou 30 dias internado na UTI. (Crédito: LEOPOLDO SILVA / AGÊNCIA SENADO)

Em um depoimento emocionado na CPI da Covid, o advogado Tadeu Frederico de Andrade, de 65 anos, relatou ontem a senadores seu drama ao ser internado em um hospital da Prevent Senior após pegar Covid-19, no ano passado. Ele disse que médicos da operadora tentaram retirá-lo da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para “morrer em poucos dias”, após usarem o chamado “kit covid”, composto por medicamentos sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus. Ao contar a sua história, ele chorou.

A CPI da Covid investiga a Prevent Senior por supostamente fazer “experimentos” em pacientes para testar substâncias que não têm indicação para casos de Covid-19, como a hidroxicloroquina.

O advogado afirmou que, por orientação de médicos da Prevent, recebeu o “kit covid” ainda em casa, logo após ligar para o plano e relatar os primeiros sintomas da doença. Depois de cinco dias de tratamento, teve uma piora no quadro, quando foi internado. Ele disse que permaneceu durante 30 dias na UTI e afirmou ter sido vítima de uma tentativa de retirada dos cuidados intensivos sem o consentimento da família.

Por telefone, de acordo com Andrade, uma médica da Prevent informou à filha do paciente que ele seria retirado da UTI e iria para um leito paliativo, com aplicação de morfina e determinação para não reanimação em caso de parada cardíaca. A decisão foi repetida em uma reunião presencial usando o prontuário de uma outra paciente, de acordo com Andrade. “Seria ministrada uma bomba de morfina e todos os meus equipamentos de sobrevivência, na UTI, seriam desligados.”

A família foi contra a decisão dos médicos e ameaçou recorrer à Justiça. “Minha família não concorda nessa reunião com o início dos cuidados paliativos, se insurge, ameaça ir à Justiça buscar uma liminar para impedir que eu saia da UTI e ameaça procurar a mídia. Nesse momento, a Prevent recua e cancela o início do tratamento paliativo. Ou seja, eu, em poucos dias, estaria vindo a óbito e hoje estou aqui”, relatou o advogado, que chorou ao mencionar o episódio aos senadores.

Médico denuncia

Também na sessão de ontem, o médico Walter Correa de Souza Neto falou em “fraudes”, incentivo ao chamado “tratamento precoce” e falta de autonomia dos profissionais de saúde na Prevent. Ele foi um dos profissionais que entregaram um dossiê à CPI com acusações à rede.

O médico declarou ter sido pressionado a prescrever hidroxicloroquina. “Eu não fazia isso fora da Prevent, mas, na Prevent, eu chegava a fazer e avisava sempre os pacientes de que não havia evidência. Essa coisa que foi citada de que os pacientes ‘ninguém vai a óbito, ninguém entuba’, isso já era muito claro, a gente sabia que era fraude.”

Queiroga será chamado de novo

Mirando na reta final dos trabalhos, a CPI da Covid aprovou uma nova convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. O presidente da comissão, senador Omar Aziz, afirmou ontem que ainda definirá a data do depoimento -- que seria a terceira audiência com o chefe da pasta na CPI. Queiroga está na lista de investigados do colegiado. (Estadão Conteúdo)