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CPI da Covid

Acusado de mentir à CPI, Dias é preso

08 de Julho de 2021 às 00:01
Da Redação com Estadão Conteúdo [email protected]
Roberto Ferreira Dias era diretor de Logística do ministério.
Roberto Ferreira Dias era diretor de Logística do ministério. (Crédito: MARCOS OLIVEIRA / AGÊNCIA SENADO)

O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias saiu preso da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no fim da tarde de ontem. A ordem partiu do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), que apontou falso testemunho no depoimento de Dias. Acusado pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti de pedir propina em negociação para compra de vacinas contra coronavírus, Dias foi pego em contradição ao dizer que o encontro com o homem que tentava vender o imunizante havia sido “acidental”, quando conversas gravadas desmentiram essa versão.

Depois de muito tumulto e um racha no grupo majoritário da CPI, conhecido como G7, Dias foi detido pela Polícia Legislativa e depois levado à sede da Polícia Federal. “Os áudios que nós temos do Dominghetti são claros”, afirmou Aziz. O presidente da CPI fazia referência a mensagens de voz trocadas entre o policial militar, o coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde, e um outro interlocutor chamado Guilherme Filho Odilon, que já falavam na negociação da vacina com Dias. Os áudios foram revelados pela CNN Brasil.

“Não aceito que a CPI vire chacota. Temos 527 mil mortos e os caras brincando de negociar vacina”, afirmou Aziz, em voz alta, ao pedir a prisão. “Por que não teve esse empenho (do governo) para comprar vacina da Pfizer naquela época? Ele vai estar detido agora pelo Brasil, porque nós estamos aqui pelo Brasil, pelos que morreram.” Houve muito bate-boca na sessão e acusações de que Aziz estava cometendo “abuso de poder”.

Diante de pedidos de senadores para que, em vez da prisão, fosse feita uma acareação entre Dias e o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco -- apontado no depoimento como a pessoa responsável pela compra de vacinas --, Aziz não escondeu a irritação. “Ele está preso por perjúrio. Nós não estamos aqui para brincar e ouvir historinha de servidor que pediu propina”, criticou.

Dias foi demitido do Ministério da Saúde na semana passada, no mesmo dia em que foi publicada entrevista de Dominghetti ao jornal Folha de S. Paulo -- no qual o PM afirma que o ex-diretor havia cobrado propina de US$ 1 por dose da vacina Astrazeneca para fechar o negócio. Segundo o ministério, a demissão já havia sido decidida pela manhã.

O policial militar se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply e afirma ter oferecido 400 milhões de doses da vacina ao ministério, durante jantar em Brasília com a participação de Dias e de Blanco, em 25 de fevereiro. Na versão de Dominghetti, que depôs à CPI na semana passada, o acordo só não foi adiante por causa da cobrança de propina.

Jantar

Em depoimento que durou sete horas, Dias disse que só conheceu o policial militar, vendedor de vacinas, porque ele apareceu em um restaurante de um shopping de Brasília, no qual jantava com um amigo. Na versão do ex-diretor, o encontro não havia sido agendado e Dominghetti se juntou à mesa porque estava acompanhado de Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde. Por essa versão, o policial teria se apresentado como representante da Davati e falado sobre a proposta de venda da Astrazeneca.

A quebra de sigilo do celular de Dominghetti, porém, mostrou que o encontro não foi por acaso, como afirmara Dias, mas estava previamente combinado. Em mensagens de áudio, o policial já tratava do encontro dois dias antes.

Dias é ligado ao ex-ministro da Saúde Ricardo Barros, hoje líder do governo Bolsonaro na Câmara. Ele tentou minimizar essa proximidade. (Da Redação com Estadão Conteúdo)