Operação Akuanduba
Salles e Ministério do Meio Ambiente são alvos de investigação da PF
Operação Akuanduba apura o envolvimento de agentes públicos e empresários em irregularidades em processos de exportação de madeiras
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi alvo ontem de operação da Polícia Federal que aponta seu envolvimento em suposto esquema de corrupção montado para atuar na exportação ilegal de madeira. Além de Salles, o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, e a cúpula do órgão ambiental são suspeitos de favorecer o contrabando de produtos florestais no País. As suspeitas, que passam por nove tipos de crime, atingem um dos principais nomes do ministério.
A operação, batizada de Akuanduba, foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Na decisão, o magistrado destacou que um relatório de inteligência financeira indicou “movimentação extremamente atípica” de dinheiro, um total de R$ 14,1 milhões, envolvendo um escritório do qual Salles é sócio, em São Paulo, em transações realizadas entre 2012 e junho do ano passado. Moraes determinou a quebra dos sigilos bancários e fiscais do ministro, assim como dos outros 22 alvos da investigação.
Salles negou irregularidades e disse que o ministro do Supremo foi “induzido ao erro” ao autorizar a operação.
Investigações
As investigações da PF apontam a existência de um “modus operandi” que passou a vigorar em exportações ilícitas de madeira, a partir de mudanças na legislação realizadas para facilitar a saída de material do Brasil, a pedido de madeireiros. No centro das acusações está um despacho assinado pelo presidente do Ibama, em fevereiro do ano passado.
Entre o fim de 2019 e início de 2020, o órgão ambiental havia recebido uma série de demandas de madeireiros para facilitar a exportação, mexendo nas regras de fiscalização. Na ocasião, empresas enfrentavam bloqueio de cargas, principalmente nos Estados Unidos, e procuraram a cúpula do Meio Ambiente para tentar resolver a situação. A PF afirmou que Salles e a diretoria do Ibama se reuniram no dia 7 de fevereiro, em Brasília, com associações do setor, como a Associação Brasileira de Empresas Concessionárias Florestais (Confloresta), a Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Pará (Aimex) e o Centro das Indústrias do Pará (CIP).
As entidades reclamaram de apreensões de produtos florestais exportados sem a devida documentação pelas empresas Ebata Produtos Florestais Ltda. e Tradelink Madeiras Ltda., para os Estados Unidos. Menos de um mês após o encontro, no dia 25 de fevereiro do ano passado, o presidente do Ibama editou um “despacho interpretativo” que, numa canetada, anulava a necessidade de autorização específica para exportação de madeira. (Da Redação com Estadão Conteúdo)