CPI da Covid
Araújo diz não ver motivação política no atraso de vacinas
Na CPI da Covid, ex-chanceler responsabilizou Pazuello por compra dos imunizantes
O ex-chanceler Ernesto Araújo descartou que os atrasos para importação ao Brasil de insumos vindos da China aconteçam por razões políticas. Apesar de o país asiático e aliado na produção de vacinas no Brasil não apontar que essa seja a causa para a demora na remessa de ingredientes necessários para a produção de imunizantes, os atrasos coincidem com ataques do presidente Jair Bolsonaro, ou pessoas próximas do Planalto, ao país. As declarações foram dadas por Araújo em depoimento na CPI da Covid, no Senado, ontem.
“As alegações de que haveria uma negativa do governo chinês de permitir o fornecimento de vacinas ou insumos por razões políticas pressupõe algo que eu acredito que o governo chinês não é capaz: de negar vacinas que podem salvar vidas por causa de uma interferência política”, afirmou Araújo durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado. “Isso pressupõe uma imagem ruim da China com a qual eu não concordo e não temos indício nenhum de que tenha havido essa interferência política”.
Sobre as revelações feitas pelo ex-secretário de Comunicação do Planalto e empresário Fábio Wajngarten, Araújo disse que teve ciência da oferta de 70 milhões de vacinas por intermédio do embaixador brasileiro em Washington. Segundo o ex-chanceler, além da representação, nenhum membro do governo o procurou para tratar do comunicado.
Ernesto Araújo também disse na CPI que, durante sua gestão no Ministério das Relações Exteriores, sua posição com relação à quebra de patentes de vacinas contra Covid-19 sempre foi favorável ao consenso da Organização Mundial do Comércio (OMC). O ex-ministro destacou que outras economias emergentes também tiveram a mesma posição.
Segundo o Araújo, no ano passado havia o entendimento que a proposta da Índia sobre a quebra de patentes das vacinas não avançaria devido à resistência dos Estados Unidos. Questionado, Araújo negou que essa falta de posicionamento teria atrapalhado a relação do País com a Índia na obtenção de vacinas contra Covid-19.
A comitiva chefiada por Araújo a Israel também entrou na pauta dos questionamentos dos senadores. Segundo o ex-chanceler, a missão surgiu de uma conversa entre o presidente Bolsonaro e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Na avaliação de Araújo sobre a missão, os dois medicamentos que motivaram a viagem a Índia tiveram testes promissores, afirmando que o governo brasileiro procurou se antecipar na formação de cooperações que permitam o acesso a medicamentos para possível tratamento contra a Covid-19.
Pazuello
Apesar da defesa das ações do governo federal durante a pandemia da Covid-19, o testemunho do ex-ministro das Relações Exteriores foi marcado pelo apontamento, repetidas vezes, de que as ações do Itamaraty estiveram vinculadas às orientações do Ministério da Saúde. Na avaliação de membros da comissão, as falas devem complicar a situação do ex-ministro Eduardo Pazuello cujo depoimento ao órgão está previsto para hoje.
Entre os pontos levantados por Araújo e que devem servir de base para os questionamentos a Pazuello está a letargia do governo brasileiro em conseguir acesso a insumos para conter a grave crise sanitária registrada em Manaus (AM) no início deste ano. (Da Redação com Estadão Conteúdo)