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CPI da Covid

Bate-boca e xingamento marcam depoimento de Wajngarten à CPI

Renan pediu a prisão do ex-secretário e causou reação de Flávio Bolsonaro

13 de Maio de 2021 às 00:01
Da Redação com Estadão Conteúdo [email protected]
Depoimento de ex-secretário de Comunicação durou 8 horas.
Depoimento de ex-secretário de Comunicação durou 8 horas. (Crédito: JEFFERSON RUDY / AGÊNCIA SENADO)

Em uma sessão marcada por bate-boca, xingamentos e até ameaça de prisão, o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fábio Wajngarten admitiu à CPI da Covid, ontem, que a carta na qual a empresa Pfizer se dispunha a negociar vacinas contra o coronavírus foi enviada ao governo em setembro de 2020 e ficou dois meses sem resposta. No depoimento, que durou mais de oito horas, Wajngarten caiu em contradição, negou ter chamado o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de “incompetente” e irritou senadores.

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), disse mais de uma vez que pediria a prisão de Wajngarten por falso testemunho. A posição de Renan provocou contrariedade do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), até então seu aliado, e os dois acabaram discutindo. “Eu não sou carcereiro de ninguém”, reagiu Aziz. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) entrou na sala e chamou Renan de “vagabundo”.

“Imagina a situação: um cidadão honesto ser preso por um vagabundo como Renan Calheiros”, afirmou Flávio, filho “01” de Bolsonaro, ao dizer que o relator queria transformar a CPI em palanque eleitoral. “Vagabundo é você, que roubou dinheiro do pessoal do seu gabinete”, retrucou Renan. Mais tarde, nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro escreveu: “Com mais de 10 inquéritos no STF, Renan tem moral para querer prender alguém?”

O presidente da CPI suspendeu o depoimento, aproveitando que os trabalhos precisariam ser interrompidos por causa da sessão do Senado.

Carta

O clima tenso dominou toda a sessão. Um deles foi quando o sabatinado tentou amenizar a entrevista dada à revista Veja, em abril. Nela, o ex-secretário de Comunicação responsabilizou o Ministério da Saúde, à época comandado por Pazuello, pelo atraso das vacinas e contou que o CEO da Pfizer, Albert Bourla, havia encaminhado uma carta não apenas ao gabinete de Bolsonaro como a várias autoridades do governo, em setembro, oferecendo 70 milhões de doses da vacina. “Houve incompetência e ineficiência”, disse na entrevista.

À CPI, no entanto, o ex-titular da Secom não quis apontar o dedo para Pazuello e muito menos para Bolsonaro. Mesmo assim, confirmou que a correspondência da Pfizer fora enviada ao governo em 12 de setembro, não tendo resposta até 9 de novembro. Mas diminuiu o número da oferta da empresa. “A proposta da Pfizer, no começo da conversa, falava em irrisórias 500 mil vacinas”, disse.

Entrevista

Renan afirmou que iria requerer a gravação da entrevista à Veja, que, logo depois, publicou em seu site o áudio, no qual o ex-titular da Secom reitera ter havido “incompetência” nas negociações da vacina. “Vou requerer, na forma da legislação processual, a prisão do depoente”, anunciou o relator.

Outros senadores, como Fabiano Contarato (Rede-ES), também defenderam a prisão de Wajngarten depois que ele negou ter autorizado a campanha publicitária com o mote #O Brasil não pode parar, assinada pela Secom, contra o isolamento social. A campanha foi veiculada em março do ano passado. Wajngarten lembrou que, à época, havia contraído coronavírus e ficou afastado. “Esse depoente tem de sair daqui preso”, gritou Contarato, que é delegado.

O Código Penal, em seu artigo 342, classifica o ato de fazer afirmação falsa em investigação como crime punível com reclusão de dois a quatro anos e multa. (Da Redação com Estadão Conteúdo)