Polícia
ONU pede investigação independente após operação em Jacarezinho
A operação policial, realizada nesta quinta-feira (6), é a mais letal da história do Rio de Janeiro
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos informou, nesta sexta-feira (7), estar “profundamente preocupado”, após a sangrenta operação da polícia contra o tráfico de drogas em uma favela do Rio de Janeiro. A instituição pediu à Justiça brasileira uma investigação independente e imparcial sobre episódio.
A operação realizada em Jacarezinho, na quinta-feira (6), é mais letal da história do Rio, segundo a polícia. Pelo menos 25 pessoas morreram, entre elas um policial. “Recebemos relatos preocupantes, segundo os quais, depois do ocorrido, a polícia não tomou as medidas necessárias para preservar as provas na cena do crime, o que pode dificultar a investigação”, afirmou o porta-voz da instituição da Organização das Nações Unidas (ONU), Rupert Colville.
“Pedimos ao Ministério Público que conduza uma investigação independente e imparcial sobre o assunto, seguindo as normas internacionais”, acrescentou, em entrevista coletiva em Genebra. A operação policial teve como alvo um grupo que recrutava crianças e adolescentes para o tráfico de drogas, roubos, sequestros e assassinatos. A favela é a base do Comando Vermelho, principal organização criminosa de tráfico da cidade.
Na quinta, a comunidade foi transformada em um verdadeiro campo de batalha, com intensos tiroteios e helicópteros sobrevoando as casas. O Alto Comissariado denunciou o uso desproporcional da força policial nas favelas brasileiras, uma tendência que “já vem de muito tempo”, frisou Colville.
“Além disso, pedimos um debate amplo e inclusivo no Brasil sobre o modelo de manutenção da ordem aplicado nas favelas”, completou o porta-voz. A operação foi realizada, apesar de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) proibindo a polícia de realizar este tipo de batida em favelas brasileiras durante a pandemia do novo coronavírus, salvo em circunstâncias “absolutamente excepcionais”.
“Lembramos às autoridades brasileiras que se deve recorrer à força apenas em casos estritamente necessários e que devem sempre respeitar os princípios de legalidade, precaução, necessidade e proporcionalidade da força letal”, insistiu. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, a polícia do Rio de Janeiro foi responsável pela morte de 453 pessoas entre janeiro e março deste ano, e de 1.245, no ano passado.